sábado, 27 de setembro de 2014

Sobre preconceito regional. Mais sobre História do Brasil

Assunto recorrente pois toda vez que soltam alguma notícia sobre gangues ou indivíduos rotulados como neonazis ou skins (de direita), sempre citam o ódio ou perseguição a "nordestinos" ou o que esse tipo de imbecis entendem sobre isso, pois em geral trata-se de um bando de ignorantes raivosos, com problemas de identidade cultural, reproduzindo o preconceito de onde foram criados, pois eles não nasceram odiando grupos ou não é algo (o ódio, preconceito) que se passe biologicamente de pais pra filhos e sim através do meio cultural onde são criados: escolas, bairros, família, vizinhos etc.

Por que esse tipo de coisa sempre me irrita? Porque eu não compartilho da ideia que a mídia repassa do que venha a ser "Nordeste" e "nordestinos", como já mencionei nesse texto sobre o livro "A invenção do Nordeste" (na era Vargas), como também da reprodução desses estereótipos regionais por grupos dentro da própria região para "naturalizar" um estereótipo negativo e artificial e preconceito criados de fora pra dentro de uma divisão regional do Estado Novo, com mitificações ridículas e supressão de identidades de Estado, principalmente a do meu, Pernambuco.

Não só a mídia é responsável por perpetuar isso, como já vi vários grupos que se identificam assim (tem até no Facebook coisas como "liga nordestina" etc, algum nome assim) reproduzindo essa identidade forjada e reforçando os estereótipos que alguns grupos de alguns estados ficam incitando.

Estou afirmando categoricamente que essa identidade regional é uma invenção e que nem todo mundo compartilha da ideia, apesar da massificação da mídia hegemônica do Brasil.

Os grupos que geralmente reproduzem estes preconceitos é variável, vai desde descendentes de gente da própria região que acham que são "paulistas da gema" (algo normal, essa ideia regional é nova, vem da Era Vargas e sempre houve migração intensa no país, desde ricos a pobres, essa ideia de 5 Brasis é forjada) e coisas do tipo, até o problema identitário de descendentes de colônias de imigrantes, algo mais notável em São Paulo (o famoso "sou descendente de", pra ressaltar origem e nunca o "sou brasileiro", ironicamente os descendentes de portugueses em geral se dizem brasileiros) mas também ocorre em outros estados.

O que se passa é que alguns estados por não terem um referencial identitário forte acabam adotando esse termo regional como fator identitário (agora me refiro à região Nordeste), e ao fazer isso acabam criando uma crise de identidade em Pernambuco e em estados onde a identidade é mais forte como a Bahia.

Não renegamos a região ou o país, apenas não nos vemos como meia dúzia de desinformados querem que a gente se sinta ou se veja por pura petulância, desrespeito e ignorância. Entendo que grupos oriundos da região que migraram pra outros estados, pelo preconceito onde acabam se alojando, acabem adotando essa identidade regional ou não rejeitando isso, mas quem ficou na região não se vê assim, apesar de uma parte repetir o discurso propagado pela mídia, por ignorância principalmente e falta de consciência política.

Há também diferenças comportamentais históricas entre estados (uns são mais brandos, outros mais briguentos), diferenças sotaques (pois é, pra quem não conhece, há vários sotaques no que chamam de "Nordeste", até dentro de um mesmo estado, e dá pra identificar fácil de onde alguém é só pelo sotaque) e rixas entre alguns estados.

Eu já disse antes e volto a repetir quantas vezes forem necessárias: o mal deste país é que o povo (generalizando) não conhece a história da formação do mesmo, por isso que se parecem com um bando de ETs que acham que o Brasil é uma coisa solta, largada no espaço, sem origem histórica, por simplesmente não terem ideia da formação do mesmo (e não terem nem interesse em saber ou conhecer).

Pelo fato do bairrismo, consciência nacional e nativismo forte em Pernambuco, de ser um fenômeno acentuado (embora não seja o único Estado do país a manifestar isto, nem o mais virulento do país, o Brasil é o país dos bairrismos e deveria parar com a hipocrisia de negá-los, até pra combatê-los quando extrapolarem), esses fatores juntos mencionados acabam provocando uma aversão e uma ideia contrária à essa ideia esdrúxula que criam em torno do que falam ser "Nordeste", como se fosse uma região "homogênea", "monolítica", que só existe na cabeça dos desinformados ou da claque raivosa de outras regiões e estados, principalmente propagada pela mídia do eixo Rio e São Paulo (é bom dar nomes aos bois) que é a mídia que mais reproduziu, reproduz e inculca o povo com esses estereótipos nacionalmente. E o faz de propósito, não é por mera ignorância (que eu até relevaria).

Por que a implicância então com a questão? Eu sempre vejo reações histéricas e "coitadísticas" (existe esse termo? se não existe então acaba de ser criado, embora eu já tenha citado o termo antes), referente a "coitadismo", de gente da região (que vive em outros estados geralmente), quando surge na mídia uma denúncia de "preconceito a nordestinos", que ignoram que essa ideia regional só existe na cabeça dessas pessoas, pois, dependendo do estado de origem da pessoa atacada, eu diria que o possível agressor corre mais risco de sair machucado gravemente num embate do que a possível "vítima", rs.

E não estou brincando. Por isso que acho bizarro quando chegam a mim e me soltam este tipo de notícia sobre "ataque a nordestinos" (cliquem no link) como se eu fosse ficar "chocado". Sinto, mas não me comovo com esse tipo de apelação emotiva, e entenderão a razão disto no desenrolar do post. Se as pessoas soubessem dessas nuances entre estados (das peculiaridades de cada um), evitariam postar coisas dessas tipo.

Acho culturalmente rica a pluralidade regional e estadual brasileira, foi isto que formou o Brasil.

Em parte, muitas vezes, a culpa não é dessas pessoas e sim da omissão, silêncio, que esses grupos que se identificam como "regionais" fazem pra perpetuar esse tipo de coitadismo e de imagem de "gente frágil","unida" etc, algo incompatível com o que nós pernambucanos (generalizando) sentimos e vemos.

Eu sei que é perigoso falar e generalizar sobre povos, pois dentro de um povo existe gente de todo tipo, desde do frouxo, despolitizado, até o mais casca grossa (brabo, valente), politizado etc, mas existe uma coisa que se costuma chamar de ethos (referente a costumes) que, em casos de embate, costuma vir à tona e se sobressair sobre qualquer gesto de covardia ou algo parecido. Resumindo, os indivíduos que têm consciência desses costumes históricos locais costumam trazê-los à tona, quando há confronto, pra instigar o povo.

A quem quiser tratar o assunto como "coisa menor": a mídia hegemônica no Brasil vive instigando, provocando, incitando o conflito entre estados e regiões, por isso este tema é bastante relevante pra entender o Brasil.  Por isso que se vê tanta briga e conflito, pois a mídia (os cabeças dela) sabem desses aspectos nacionais e pelo fato do povo não discutir isso pra aprender e querer criar tabus, acaba fazendo o jogo de discórdia desta mídia.

Essas questões culturais, ethos etc, existem em todos os países do mundo, territórios, regiões, cidades etc, com o Brasil não é e nem seria diferente, apesar do povo ter enfiado na cabeça que o Brasil é uma "excepcionalidade" no mundo por um nacionalismo tosco cultuado por ditaduras e outros governos.

Quem conhece o ânimo e espírito de guerra de alguns estados e cidades, irei destacar Recife, talhados em séculos de conflito (existem cicatrizes de conflito e guerra em Olinda e Recife em praticamente todo canto, e isso forja desde cedo uma mentalidade altiva, de combate), sabe que não é muito aconselhável mexer com determinados estados e cidades e indivíduos dela, pois, dependendo do temperamento do agredido, você pode se deparar desde com alguém pacato, como com alguém que revidando é literalmente casca grossa e intolerante (apenas quando é confrontado) e você se sairá na pior pois esses indivíduos não se veem como nos estereótipos cultuados e reproduzidos na mídia de "povo frágil, sofrido" e toda aquela lenga-lenga enfadonha, enjoativa que essa mídia hegemônica do país reproduz há décadas, e ironicamente acaba acentuando e instigando o bairrismo local.

Vou citar um caso recente (que não tem séculos), que aconteceu há algumas décadas, mostrando que essas coisas que citei acima existem, e que há gente no país que tem consciência disso, apesar da mídia ficar tagarelando que isso não existe, por omitir o assunto ou mesmo negá-lo, de que todo mundo no Brasil não tem ideia alguma do que seja o Brasil (não o Brasil distorcido da grande mídia oligopolizada).

Uma das preocupações no golpe militar de 1964 foi deslocar tropas do exército pro Palácio do Campo das Princesas (sede do governo de Pernambuco) pra depor Arraes (então governador de PE, apesar de não ser pernambucano), na ocasião da queda de Jango (João Goulart), com medo que pudesse haver resistência organizada local pelo histórico de conflitos e resistência do Estado.

O exército conhece bem esse espírito de luta pois a batalha dos Guararapes é tida como referência pro próprio exército brasileiro porque foi o primeiro conflito armado nativista onde surge a ideia de nacionalidade brasileira. E na verdade Recife e Pernambuco foi, depois do golpe, um local onde ocorreu confrontos como a explosão de bomba no Aeroporto dos Guararapes (pela resistência armada) e forte atuação das forças repressivas militares. Isso não é só "mito" velho de livro de História, esse sentimento realmente existe, basta atiçarem pra pólvora logo se espalhar, como se fosse algo "instintivo".

Havia um texto no link do site do exército, mas colocaram na seção regional, podem conferir (apesar de ser bem aumentado pra dar um ar de "heroísmo" a mais):
Batalha dos Guararapes

Pra quem não conhece a história disso, foi neste local (é um Monte, ou Montes, os Montes Guararapes) que foram travadas as batalhas principais contra o exército holandês (pelos nativos, descendentes de portugueses e negros) e a expulsão em definitivo da Holanda de Pernambuco. Episódio conhecido como Insurreição Pernambucana:
Nova Holanda
Invasões holandeses

A Holanda na época era uma potência militar marítima e econômica e foi derrotada por forças teoricamente bem mais fracas. Olinda foi incendiada antes dos holandeses porque era onde vivia a aristocracia local, Olinda foi a primeira capital de Pernambuco e não Recife, que era um porto da mesma, até se transformar com os holandeses. Links adicionais:
O Despertar do Recife no Brasil Holandês
Com 477 anos, invadida e incendiada pelos holandeses, a cidade se reergueu e virou Patrimônio Cultural e Natural
Centro Histórico de Olinda

E não se pronuncia "Ôlinda" como algumas pessoas erroneamente falam, o certo é "Ólinda" (com o "o" aberto) porque reza a lenda de fundação da cidade que ela surgiu de uma frase dita pelo donatário da Capitania "Ó! Lindas flores" do alto da mesma. Mas pode ser só lenda, mas se pronuncia com a vogal "o" aberta e não fechada.

Como eu afirmei acima, há cicatrizes de conflitos e batalhas por todos os cantos. Por isso que acho estranho que haja tanto brasileiro olhando só pra conflitos fora do Brasil sem conhecer a história interna do próprio país, que é rica, relevante. Nada contra que se leia e se aprenda os conflitos externos, pelo contrário, quanto mais lerem (algo que preste), melhor, mas é vergonhoso o desconhecimento da história do próprio país. Nos EUA o povo aprende pesado na escola a história daquele país, no Brasil comentam a história do país de forma limitada.

Voltando à questão da identidade "nordestina". Um pernambucano (generalizando) dificilmente se vê como um coitadinho, frágil, com medo de gente de outras regiões (ou de qualquer canto), etc, um contraste nítido e pesado com essa ideia de "Nordeste frágil" e coisas do tipo. Lógico que estou sendo genérico, nem todo pernambucano é "brabo ou destemido" e não complexado, mas as chances de ter esse comportamento mais arredio são bem maiores que em outros estados. Eu estou de saco cheio de passarem por cima da História do estado com esse negócio regional de "Nordeste isso, Nordeste aquilo", "região isso, região aquilo". Chega, basta. Que respeitem o nome históricos dos estados que estão acima dessas questões regionais.

Um dado a mais, se a pessoa por acaso ainda for recifense, não idiotizado como há vários hoje em dia (infelizmente), a coisa ainda piora. O recifense é um povo elitista, orgulhoso, brioso e bairrista (mais que o resto do estado), não sei se isso é uma qualidade ou defeito, mas é algo real. E que como se diz em PE (sigla do estado), pernambucano só baixa a cabeça a alguém pra agradecer, jamais pra se submeter.

Dependendo de quem você mexe/provoca, a reação pode ser bem 'surpreendente' (negativamente). Ou seja, quando eu vejo alguém na mídia reproduzir essa ideia de "coitadinho", "tenham pena de mim" ou "tenham pena dele", ou retratar gente como "inferiores", dá uma raiva fora do comum. Jamais contem comigo pra reproduzir esse tipo de porcaria, esse estereótipo ridículo.

A maioria do povo brasileiro desconhece as origens e o processo de desigualdade regional atual do país, por isso que esses problemas descritos no post se proliferam. A ignorância é a mãe de quase todo ato cretino. Já citei em algum post passado (basta procurar pela tag/marcador História do Brasil, sobre Werner Baer e o livro "Economia Brasileira") a história da formação do Brasil atual e o surgimento disso.

Serei solidário com casos de preconceito, mas nunca com quem queira posar de coitado, frágil se valendo desse negócio "regional" pra sentirem piedade alheia, isso é ridículo, desprezível, é acatar preconceitos e estereótipos ditos por terceiros, com um espírito de porco fora do comum, como se fossem verdade.

Eu já li e vi várias manifestações que critiquei acima neste post, várias é forma de falar, foram dezenas, centenas, já perdi a conta, e geralmente (90% ou mais) de não-pernambucanos. Por isso que estou narrando e citando este comportamento no post. Não é algo incomum, pelo contrário, é algo bem corriqueiro.

Até em matéria sobre "neonazismo" (neofascismo, extrema-direita) no Brasil, eu já li esse tipo de postura, e obviamente rechacei.

A quem não conhece esses pormenores e histórico dos preconceitos, acabam ficando espantados quando veem certas reações, por não conhecem esses aspectos estaduais.

Vou relatar algumas coisas que sei e que muita gente não tem nem ideia de onde surgiu, só pra reforçar o que eu disse acima, pra mostrar como o povo desconhece o próprio país e a origem de alguns preconceitos. Muita gente em PE omite ou ignora a origem desses termos, pois deixaram de usá-los depois que esses termos pejorativos passaram a ser usados como preconceito regional nacionalmente.

Se você presta atenção a essas coisas, já deve ter ouvido falar que chamam "nordestinos" no Rio de Janeiro, pejorativamente, de "paraíbas" (nem acertar o nome "paraibano" acertam, rsrs), e em São Paulo o termo pejorativo pra "nordestinos" é "baianos". Já devem ter ouvido falar também do "cabeça chata" etc.

Pois bem, chegou a hora deu ironizar a própria burrice (ignorância) de quem diz isso sem saber a origem dos termos. Pra você ver, nem capacidade pra inventar um xingamento esses caras têm (estou sendo irônico), rs.

O termo "cabeça chata" era um "elogio" (entre aspas, está novamente em sentido irônico), pejorativo, que o povo em Pernambuco usava pra ironizar cearenses. Por isso talvez eles não 'morram de amores' por a gente até hoje, rsrsrs.

Sim, o termo não foi nem um paulista ou carioca que o inventou, isso surgiu em Pernambuco, é algo antigo e que não era preconceito embora fosse provocação bairrista.

Aquela história de que "o cara ficou com a cabeça achatada porque bateram na cabeça dele" e que "quando ele crescer vai estudar no Recife" etc, adaptaram essa provocação bairrista em outros estados e as antas que repetem não sabem nem de onde isso surgiu. Já tive que ouvir alguém desses estados dizer isso e obviamente ironizei a figura.

Algum pernambucano sem vergonha (ou vários), achando que essa provocação bairrista não iria virar no futuro preconceito regional, porque as coisas no Brasil antigamente não tinham a conotação atual, disseminou isso nesses estados e adaptaram a coisa pra preconceito regional.

Outro detalhe, jamais usam o termo pernambucano pra retratar pejorativamente regionais, porque devem saber que se usarem isso o "tempo fecha", rs, ou simplesmente acaba perdendo o sentido pois a gente tem orgulho do nome do Estado e de ser chamado assim e os vizinhos não iriam gostar de ser chamados de pernambucanos.

Eu estou ironizando a coisa, mas há um fundo de verdade.

Alguém chamar um pernambucano de baiano é algo que seria visto como ofensa grave. Pra quem não entende o motivo, não lembro se cheguei a narrar a rixa história entre Bahia x Pernambucano, quem quiser pode procurar o assunto, em todo caso, vai uma amostra só pra ilustrar a questão (só um aviso, eu não concordo integralmente com o conteúdo dos textos, estou citando só pra ilustrar que a rixa existe):
Link1
Pernambuco fogo alto, Bahia banho-maria

Vocês leem ou veem isso sendo citados na mídia? Presumo que não. É muito raro citarem.

Outro problema relacionado a essa questão de estereótipo regional é o uso da vestimenta de Lampião, ou da vestimenta de cangaceiro e do sertanejo, do semiárido, pra retratar a região. Lampião na verdade era pernambucano, quem quiser criar sua identidade invente alguma personalidade histórica pro seu estado, rs, eu acho que já tá na hora disso ter um fim. Sem essa de ficar usando a de outro estado como "genérico" por falta de criatividade.

E há um porém nessa questão com Lampião: Lampião jamais seria cultuado em Pernambuco como algo de valor pois era um bandoleiro (existem certos círculos que cultuam, por ignorância do simbolismo disso, reproduzindo o culto que há a ele principalmente no Rio), a única coisa em comum dele com outras figuras históricas de Pernambuco é o espírito de bravura e guerra, mas ele não tem relevância nem estatura moral, histórica e política de um Frei Caneca, Joaquim Nabuco, Abreu e Lima, Bernardo Vieira de Mello ou Nassau (mesmo não sendo brasileiro é parte marcante da História de Pernambuco) que são figuras de fato representativas da história de Pernambuco. É muito chato ver a deformação que fazem com a imagem do seu estado, tanto gente de fora como a choldra interna.

Luiz Gonzaga, apesar de cantar o semiárido (região semidesértica comum de 10 estados, incluindo o norte de Minas) e usar o regionalismo pra se projetar musicalmente no Rio, era pernambucano. O frevo também é pernambucano (uma polca acelerada que acabou sendo transformada em outro ritmo musical e dança), e foi o 'culpado' pela mudança do carnaval baiano na passagem do clube Vassourinhas (de frevo) por Salvador, foi daí que surgiu os trios elétricos que até a ascensão desse "Axé" (essa coisa terrível, entulho auditivo e poluição sonora), a música que se tocava na Bahia nos carnavais era praticamente um frevo com guitarra baiana (eles deram continuidade de forma bonita à tradição começada aqui), quando a música tinha qualidade. Quem quiser ouvir uma música narrando essa história, escute a Vassourinha Elétrica com Moraes Moreira:
Vassourinha Elétrica
Vassourinha Elétrica - Gal Costa
Aqui a versão com metais (tradicional) da música "Atrás do trio elétrico", que é um frevo com guitarra baiana (a gravação original):
Atrás do Trio Elétrico (100 anos de Frevo, CD 02)

Exceto o frevo de bloco que é tocado com cordas, os outros tipos de frevo se toca com metais.

Ou seja, o que quero deixar claro neste post? O tamanho da ignorância das pessoas que fazem alarde com essa questão do preconceito regional sem nem entender a origem e o que há por trás disso. Se não sabem as peculiaridades do problema, é melhor se abster de tomar parte, eu mesmo não preciso que alguém vá me defender se algum imbecil disser besteira sobre estado ou região, não me sinto ofendido pelo que algum imbecil complexado fala. Geralmente quem ataca acaba se arrependendo de dizer a besteira.

Eu já notei que o preconceito regional em São Paulo e Rio, desde a redemocratização do país (1985), é usado como forma de não chamar atenção pra preconceito racial/étnico, pois usam esse tipo preconceito regional pra atacar pessoas com biotipo caboclo, mulato etc. Talvez por conta disso tenham aumentando a "preocupação" em torno da questão do preconceito regional (algo bem provável). Vou ficar devendo dois prints que achei pra ilustrar isso (mas colocarei aqui quando achar). Neste caso, o problema de fato é o preconceito étnico/racial (estou usando o termo "racial" por ser mais compreensível).

Um exemplo, essa matéria saiu no jornal O Estado de São Paulo mas as imagens não estão carregando (eu as tenho salvas, em todo caso), mas colocaram o print em outros jornais como podem ver abaixo pra confirmar o parágrafo acima, de que o preconceito regional está sendo usado pra camuflar racismo/preconceito étnico/racial:


Link do outro jornal. Vejam o detalhe da imagem, isto foi repassado por várias pessoas (retweeted) que poderiam se enquadrar na descrição racista que a cidadã acima fez e não foi processada por isto.

Isso de uma "torcedora" que diz torcer prum time de "massas" e "popular" no Brasil que a TV cansa de repetir que se "orgulha" de ser "popular", imagina se não se "orgulhasse"...

A descrição racista da moça: "pardos, bugres, índios, cambada de feios".

Só pra ilustrar o tamanho do delírio e imbecilidade desse tipo de figura: um dos meus bisavós (lado materno) era gaúcho, outros eram paraibanos, outros eram portugueses (alguns dos bisavós do lado paterno), tenho um sobrenome espanhol e vários portugueses, só que vieram há tanto tempo pro Brasil que ninguém lembra mais a origem certa da chegada (antes do século XIX, ou seja, nós "brasileiros antigos" existimos), aí me deparo com uma anta escrevendo isso. Acho realmente engraçado ver uma cidadão com sobrenome "Regis" (deve ser da nata "ariana europeia") escrever esse amontoado de idiotices racistas por que pensa isso mesmo, gente fútil, vazia e cheia de fezes na cabeça.

Aqui o segundo print publicado no jornal:


O que tá escrito: "só vim no twitter falar o qnto os NORDESTINOS é a DESGRAÇA do brasil.. pqp! bando de gnt retardada qe acham que sabe de alguma coisa"

O 'tweet' do cidadão acima só não é pior pois soa como piada involuntária (pois ele não teve intenção de fazer piada, só que foi tão estúpido que parece que fez de "palhaçada"). Tem tanto erro de português (ortografia e conjugação) acima que eu não sei qual é a pior coisa a citar, se isso ou a ancestralidade "ariana" (sobrenome árabe Farah) do cidadão e o tanto de recalque (complexo), "gnt retardada qe acham que sabe de alguma coisa".

Depois pernambucano é arrogante porque a gente é obrigado a conviver com esse monte de gente escrota neste país. Leva-se fama de arrogante por não se ter muita paciência com excesso de cretinice e perversidade.

Voltando ao assunto, ou seja, no fundo este preconceito regional está sendo usado hoje e há algum tempo, em algumas regiões e estados, pra camuflar preconceito racial, pois preconceito racial chama mais atenção facilmente vide o caso do goleiro Aranha. Como já disse aqui antes, eu nunca vi um Collor (sobrenome alemão), Sarney e afins sofrerem preconceito regional em outros estados com forte manifestação desse tipo de preconceito, porque o povo, "de forma portuguesa", adora respeitar quem acha ou sabe que tem status, dinheiro e poder e não dão um pio contra pessoas na frente delas, independente de que estado venham. Se bobear ainda adulam e estendem o tapete vermelho.

Isso é pra ilustrar o tamanho da babaquice por trás dessas coisas e que a porcaria da mídia oligopolizada do país não tem a menor vontade de conscientizar e esclarecer o povo sobre isso, mesmo sabendo que há, há bastante tempo, uma aversão e combate considerável à essa imposição cultural midiática.

Alguém pode estranhar porque eu sempre cito um estado em detrimento de outros, e o motivo é simples: primeiro por conhecer mais certos aspectos culturais (e históricos) desse estado que de outros. Segundo que outras pessoas de outros estados (principalmente os que possuem um ranço anti-pernambucano) irão retratar adequadamente meu Estado. E terceiro porque é um estado que historicamente sempre foi um ponto de referência e influência regional e nacional, quer os demais estados da região e outros estados do país, por recalque, tentam suprimir o mesmo, principalmente no governo daquele odiento sociólogo tucano.

A meu ver, o povo de Pernambuco anda muito manso pro meu gosto com essas imposições, aceitando demais certas coisas enfiadas goelada abaixo pela mídia hegemônica do país, mas isso é outra discussão. Acho que estamos chegando a um limite com a questão da mídia/imprensa no Brasil.

A quem achar que este post é radical (pois já teve gente achando que isso era radicalismo), o que citei acima é brando, tem gente bem mais radical do que o que foi descrito acima, quem acompanha futebol sabe da troca de "gentilezas" quando rolava aqueles jogos truncados com o Sport e clubes de fora, com a bandeira do estado tremulando no estádio. Quanto mais provocam, mais o bairrismo acirra.

Se você leu este texto e quer continuar a repetir certas bobagens, o problema é todo seu, só não chie no dia que tomar um revide por não entender que termo "regional" não é sinônimo (nunca foi e nunca será) de gentílico de estado. Em outros países esse tipo de questão costumam ser delicada e pivô de conflitos mais sérios.

O texto não é uma adulação com estados e sim uma amostra pra mostrar a quantidade de besteiras (e ignorância) que é incutida nesse termo "regional" de forma equivocada no país. Estou de saco cheio de vir gente a mim falar bobagem sem nem saber como a gente pensa ou vê essas questões. Também não deixarei que outros apresentem uma versão torta desses temas quando eu mesmo posso detalhar a coisa melhor, ou com meu ponto de vista.

Não queiram colocar esse preconceito regional no mesmo patamar de racismo contra negros e outras minorias, pois não estão no mesmo patamar (o racismo contra negros no Brasil é o pior preconceito do país) e também porque uma região ou estado não são uma minoria e fundamos este país junto com outros estados históricos (Bahia, Rio Grande do Sul, Minas, Pará), embora por lei alguém pode ser enquadrado se extrapolar certos limites com isso, mas eu jamais processaria alguém por preconceito regional por achar que ofensa que vem de baixo (de escória) é sempre desprezível, faz cócegas.

Eu realmente não fico doído quando um carioca ou paulista (a quem for desses estados, sinto em ter que citá-los, mas são os dois estados que mais enchem o saco com essas questões) repetem essas baboseiras, com gente que vive repetindo isso pra relinchar a própria burrice. A gente também costuma revidar com "carinho" e "afeto" ofensas verbais por não sentirmos (generalizando) o tal complexo de vira-latas.

Quem cunhou o termo "complexo de vira-latas" foi exatamente um pernambucano (Nelson Rodrigues), daqueles bem casca-grossa, depois do jogo da final de 1950 no Rio, com o público local, porque de fato nós vemos o país de outra forma, sentimos repulsa desse tipo de complexo, mesmo que muita gente neste país não queira reconhecer isto ou não conheça esses detalhes estaduais. Não é um chilique ou comentário imbecil que irá minar nossa moral, não se iluda com isso.

Não adianta virem aqui no blog relatar agressão a "nordestinos", exemplo (cliquem no link), que não entrarei em pânico ou coisa do tipo com isso. Não vejo como vítima de um bando de imbecis patéticos imitando grupos neonazis estrangeiros (com toda a ignorância que isso carrega). O ataque do link ao que tudo indica era uma briga pessoal entre os envolvidos que acabou se transformando (pela imprensa) em "ataque a nordestinos".

Eu queria comentar isso antes mas não foi possível, mas realmente não compartilho desse pavor com este tipo de agressão ou caso. Quem leu o texto todo acima irá entender o motivo. Estão fazendo alarde demais dessa questão, com informações carregadas de estereótipos e informações erradas.

Pra finalizar, pois muita gente pode ler a coisa de forma distorcida achando que isso é uma autoafirmação identitária e não é (isso se lerem tudo): "Ah, mas vocês são petulantes, prepotentes" etc, primeiramente, o texto é uma opinião pessoal com base em fatos históricos e observações (faltou colocar uns links com bibliografia, mas paciência). Pode ter gente (e há) do estado que não concorde com isso mas irá entender perfeitamente o conteúdo do texto e sabe que esses traços que eu citei existem.

Não somos prepotentes, mas se alguém pisa no nosso calo pode acabar não gostando da reação... É bom que as pessoas conheçam os aspectos identitários de cada estado do país pra não ficar repetindo como papagaio o que a TV fala. Por sinal, só se informar por TV no Brasil é temerário.

Como eu disse acima, a gente não baixa a cabeça pra ninguém e isso não é retórico, é uma manifestação de orgulho, brio. "Ah, mas eu não acredito nisso", problema teu, rsrsrs. Repudio qualquer menosprezo a estados etc, mas também não irão fazer isso contra o meu. Pernambuco foi historicamente muito vilipendiado, pelos traidores locais e por outros estados e principalmente pelas calhordices da Coroa Portuguesa. Não esperem submissão de pernambucanos (generalizando, pois há sempre os que fogem à regra), nem como gesto de boa vontade.

O texto deste post é o que eu penso sobre "preconceito regional" no Brasil.

Se a mídia oligopolizada do país quiser espernear repetindo as deformações identitárias dessa identidade regional forjada, problema dela. Não levo e nunca levarei isso em conta a não ser pra criticar. Ao pessoal que repete o que a mídia diz como se a mídia fosse séria ou a "verdade absoluta de tudo", favor não encher meu saco com isso e procure se informar melhor.

E só pra constar: eu apoio a regulamentação da mídia no Brasil e a presidente da República fazer isto. Há regulamentação da mídia nos EUA, Reino Unido, Alemanha, em vários países (democracias) e no Brasil é propagada uma histeria, usando clichês da guerra fria ("isso é comunismo!") pra proteger esse oligopólio. O que é engraçado pois se este pessoal se diz liberal deveria ser contra a formação de oligopólio pois atrapalha a "livre concorrência". Mas "liberal" no Brasil é só da boca pra fora, até não mexer nos privilégios de certa elite sem vergonha e antidemocrática.

Fiz o post pois acho ridículo ver gente da região chorando e esperneando quando algum boçal ou imbecil de alguns estados começam a falar ou escrever imbecilidades sobre isso ("nordestinos") achando que ofendem. Parem de chororô e revidem. Parem de frouxidão.

Esse preconceito não é algo equivalente ao caso Aranha, como disse acima, e o racismo contra negros no país, que há também na região que chamam "Nordeste", até pelo passado escravocrata colonial da mesma.

Tá na hora de pararem com frescura com isso. Eu não compartilho do complexo de vira-latas de outros estados da região (e do país). Obviamente não espero que a mídia (oligopolizada) deste país vá mudar de atitude sobre isso (hoje...), mas você que leu pode mudar de postura e provocar uma mudança mais adiante sobre isso. O Brasil mudou e continuará mudando.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Ainda o caso Aranha (goleiro). O racismo - nada cordial - brasileiro prossegue... atitude vergonhosa da mídia

Infelizmente não foi possível fazer o post logo depois do jogo, mas são episódios, novamente, que não dá pra deixar passarem batidos.

Eu não gosto de citar esta revista Carta Capital pois inclusive já critiquei pesado (e critico) matérias sensacionalistas dela (e com interpretações equivocadas) sobre fascismo, extrema-direita e neonazismo, mas esta matéria deve ser lida. Pra entender o que se passou, leia sobre o caso Aranha. O Grêmio (clube gaúcho) foi punido com a desclassificação da Copa do Brasil (não teve direito ao jogo de volta) pelo caso de racismo contra o goleiro do Santos.

Seguiu-se depois do episódio, uma tentativa cretina da mídia (ou de parte dela) de, ao invés de relatar com precisão o que ocorria e condenar os fatos (racismo) sem histeria, a mídia criou sensacionalismo barato sobre o episódio e pior, tentou forçar que o goleiro fosse falar com a torcedora flagrada xingando-o de "macaco" (não foi a única, só teve o "azar", entre aspas, de ser ela flagrada e não todos os envolvidos) tentando novamente atenuar as agressões e botar panos quentes na questão do racismo no Brasil.

Pois bem, segue a matéria da CC (eu uso essa abreviação pra citar a revista que mencionei acima) que relata o que se passou no jogo Grêmio 0x0 Santos no estádio do Grêmio, agora pelo campeonato brasileiro (outra competição) depois do episódio.

A cena final da saída do Aranha pro vestiário é grotesca. Não dá pra entender o que se passa na cabeça dessas pessoas (os repórteres que começam a indagá-lo e fazer de conta que não houve problema algum durante mais esse jogo), com perguntas cínicas e ainda com direito a riso amarelo de uma repórter no final (está tudo gravado no vídeo). O link da revista:
Vaias a Aranha são a vitória do racismo na Arena do Grêmio

Aqui o vídeo direto caso alguém não queira clicar no link acima:


O goleiro foi ironicamente agredido neste jogo com expressões (relatadas por quem cobriu o jogo) como "branquelo", etc, já que com medo, os racistinhas não usaram o termo "macaco". E mais uma vez, não generalizando que todo torcedor do Grêmio é racista pois isto pode acontecer em outros clubes, mas boa parte da torcida apoio o ato anterior, pois cabia a mesma refletir e se comportar de outra forma no estádio, mas a minoria que repudia isto acaba pagando junto do bando de canalhas covardes que só se manifestam em bando, como manada.

Vale a pena clicar no link da matéria pois tem todos os links do que transcorreu na semana do jogo, com declarações de gente que perdeu oportunidade de ficar calado e o pior de tudo, depois do pífio 7x1 sofrido pra Alemanha na Copa do Mundo, dentro do Brasil, o resultado mais humilhante e vexatório em 100 anos de história da seleção brasileira de futebol, o Sr. Felipe Scolari volta à cena com mais pérolas de quem já deveria ter deixado o futebol depois dessa derrota humilhante.

Humilhante em todos os sentidos, posso errar ao citar isto pois estou citando de memória, mas o Brasil nunca perdeu um jogo por mais de 2 gols dentro do Brasil, o pior resultado do Brasil em Copas até este ano foram os 3x0 pra França na final da Copa de 1998 com o Ronaldo grogue em campo, isso em 100 anos de história, e o cidadão (junto com outro ex-técnico em atividade, Parreira, vulgo Pé de Uva, que também foi responsável por essa lambança na Copa) me toma de 7x1, com um time mal treinado, mal convocado e sem fazer nada pra impedir o massacre no jogo, mandando jogador endurecer pra parar o jogo rival etc.

Aí chega a imprensa trololó desse país e começa o choro histérico com complexo de vira-lata chamando o time alemão de super time, o mesmo que só havia ganho de 2x1 da Argélia no sufoco na prorrogação e 1x0 pros Estados Unidos. Façam-me o favor. Com todo respeito ao time alemão que não tem nada a ver com isso e foi o time/seleção mais coeso da Copa, mereceu ganhar apesar de que um 7x1 daquele jeito sempre deixa em dúvida se é um time fora de série ou se o resultado foi uma aberração (a goleada, e eu acho que foi mesmo), mas ele foi lá e cravou os gols contra a selepífia do Felipão, como todo time profissional e sério faz, eles não têm nada a ver com essa postura ridícula dessa velharia que ainda dirige time de futebol no país por conta de cartolas (dirigentes de clube) obtusos, que se submetem aos desatinos da CBF e da Rede Globo.

O mais engraçado desses 7x1 é que teve gente na Espanha e em outros países se "doendo" mais que os brasileiros. Acusavam sempre o país de sofrer pelo futebol, "país do futebol" e bla bla bla, mas o povo soube encarar o fato à altura, calando a claque. Perde-se e ganha em jogo, ninguém morre (em condições normais). Mas foi engraçado ver, por exemplo, jornal da Espanha todo "doído" com essa derrota como se isto fosse afetar a moral de um povo por eles não conhecerem o outro lado do Brasil, de que nem todo brasileiro tem complexo de vira-lata e não se rebaixa diante de uma derrota em esporte (que vale frisar novamente, é parte do jogo, por mais que a gente não queira perder). Como se o torcedor não tivesse direito de chorar por uma derrota humilhante, até isso quiseram nos tirar o direito.

Faltou dignidade e hombridade principalmente à imprensa espanhola, grosseira desde o princípio como já frisei aqui, com o Brasil e com a seleção brasileira. Quiseram comparar a seleção nacional deles (com todo respeito) à seleção brasileira, o que é uma piada. "Ah, mas no momento atual", caramba, história de seleções se faz com o todo e não só com o momento, quem tem mais títulos e finais é o Brasil em relação à Espanha e dezenas de países, fora que tomaram de 5x1 da Holanda e saíram logo na primeira fase. Querer ignorar um histórico pra agredir é atestado de cretinice e de falha de caráter. Sem querer ser chato mas já sendo, vão ter que ganhar muita Copa e comer muito feijão pra chegar perto, mas muito mesmo, quem sabe daqui a 100 anos se o Brasil não ganhar mais título algum. Só estou comentando isso pra ter uma ideia do disparate da comparação que só encontra coro com os vira-latas estúpidos no Brasil. Nem no "top 2" (das seleções com dois títulos, Uruguai, Argentina, destacando que a Argentina é um Uruguai com cinco finais, rsrsrsrs) vocês chegaram ainda pra pensar no "top 4" (das seleções com 4 títulos ou mais, sem falar em finais).

Desculpando o desabafo acima sobre o mundial (tava preso desde a Copa, eu realmente adquiri repulsa a essa comissão técnica do Brasil da Copa de 2014, deveriam ter abandonado o futebol depois desse resultado ridículo e humilhante), mas voltando ao assunto, o Felipe Scolari (Felipão) ainda solta uma dessas contra o Aranha jogando a torcida do Grêmio contra o cara:
Felipão: "Vê se eles vão cair na esparrela do Aranha"

Pra quem não conhece esse lado nada glorioso do ex-técnico da seleção brasileira (ainda bem e que não volte nunca mais pra seleção, não te dou crédito pelo título do penta e sim aos talento dos jogadores, seu retranqueiro), as pérolas (ditas há muito tempo atrás) dele sobre Pinochet ressoaram no exterior:
Luiz Felipe Scolari: Un seguidor de Pinochet
Luiz Felipe Scolari: If you thought Mourinho was mad...wait till you meet Big Phil
Luiz Felipe Scolari: in his own words

Tradução de um dos títulos acima "Se você pensou que Mourinho (técnico português) era louco... espere até conhecer "Big Phil" (Big Phil obviamente é "Felipão", na Inglaterra chamavam ele por esse apelido, tradução parcial do apelido dele em português).

É surreal, bizarro a que ponto o futebol desse país chegou, não me refiro só ao nível técnico e ao comportamento de papagaio vociferado principalmente pela mídia pra imitar o futebol feio de outros países ignorando a tradição do futebol brasileiro que foi penta campeão por seus méritos e estilo próprio.

Antes de finalizar o post, reafirmo que apoio integralmente o goleiro do Santos sobre a questão.

Como eu disse no outro post, pode-se questionar se foi ou não a melhor ação a ser tomada, mas lembrando, cada pessoa sente e reage de uma forma, não existe um padrão fixo pra reagir a agressões, quem agride que aguente o troco, mas nunca, jamais se deve rechaçar o direito do goleiro de se manifestar e reagir às agressões, como ele acha que é o certo, como alguns panacas andaram fazendo ou querendo que ele ande de cabeça baixa.

Fiquei felizmente surpreso e impressionado com a personalidade e conscientização do Aranha com a questão do racismo, ele não sucumbiu à pressão sem vergonha da mídia em instante algum e deixou esses panacas desorientados. Quando falo de pressão sem vergonha, é que levaram até a torcedora agressora do caso pra programa de futilidades de uma emissora de TV (infelizmente ainda a maior do país, mas sem o poder de décadas atrás) pra fazer firula. O racismo velado (que a gente chama de "cordial") no Brasil ficou escancarado mais uma vez, só que dessa vez com revide à altura.

Como eu disse, eu não sei se eu reagiria dessa forma em relação a preconceito (falta o post sobre a questão regional) pois eu costumo revidar agressões com ironia, mostrando que o agressor é um imbecil pra fazê-lo se sentir mal, mas não é todo mundo que suporta certos tipos de pressão e, por mais que a gente esteja calejado com isso, qualquer pessoa pode estourar. Mas não dá pra negar que a reação firme e briosa do Aranha já é sim um marco histórico contra o racismo, no futebol e no país.

E antes que chegue algum idiota (pois esse é o termo correto pra chamar quem vem falar besteira) vindo com o papo de "o Brasil só fala em futebol e bla bla bla", alguns pontos:

1. O futebol é o esporte mais visto e acompanhado em todo mundo, não é só o Brasil que fala em futebol ou o leva a sério, é uma atividade econômica hoje de peso, só gente muito estúpida querendo posar de "esperto" nega isso e repete mantras de 'radicaizinhos' idiotas com aquela ideia de "futebol ópio da massa". E não é só gente radical de esquerda (sofrendo de esquerdismo) que diz isso, tava cheio de radicalzinho de direita repetindo as mesmas idiotices da dita "esquerda radical" durante e após a Copa do Mundo.

2. O futebol, como a música e outras manifestações culturais/artísticas, é um componente de destaque de um povo, países investiam e investem pesado em atletas em Olimpíadas pra projetar uma imagem de supremacia pro mundo, como o basquete é pros Estados Unidos etc. Então não irei me privar do futebol, e nem ninguém deve, porque um bando de imbecis neste país passaram a malhar tudo no país por questões partidárias mal dissimuladas ou mesmo burrice mal camuflada.

3. Ninguém é forçado a gostar ou assistir futebol, mas quem não gosta tem sim que respeitar quem gosta se querem que os demais respeitem quem gosta de outra coisa, e parar com esses clichês ordinário, de gente estúpida, de que "isso só acontece no Brasil" bla bla bla, o Real Madrid e o Barcelona são espanhóis (esse último até quando eu não sei, rsrsrs) e são máquinas de fazer dinheiro (divisas) pra Espanha. A esse pessoal chato, parem de falar bobagens por não acompanhar o esporte.

4. A imprensa desportiva brasileira junto com a imprensa normal (salvo exceções) é um esgoto a céu aberto. Muito ruim, péssima, só se salvam poucas coisas como a cobertura do vôlei e em alguns casos a cobertura de automobilismo. O que tem de mané comentando futebol é uma festa (de desgraça), é um circo de horrores, fora o horário dos jogos alterado por charminho do Império televisivo de certa emissora do país que contribuiu (pela cobertura ridícula e invasiva que fazem) pro desmantelo da seleção brasileira na Copa (não só nessa como em várias outras). Tá na hora disso acabar.

Deixo aqui meu total apoio ao técnico Dunga. Não sei se ele dará jeito a esta zona que é a CBF e o que se tornou a seleção brasileira, porque se não ganhar título em mundial o técnico de seleção é queimado, mas como desportista e pessoa que tem apego e respeito à camisa da seleção, ele é 100% ao contrário de muito jornalista babaca da mídia brasileira que só fala bobagem sobre o esporte e não conhece nada da história do mesmo. Agora vão à TV criticar o povo, pois é só isso que restou a vocês já que estão isolados depois dessa sequência de palhaçadas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Eichmann antes de Jerusalém (Bettina Stangneth)

Em 1957, um círculo de nazistas na Argentina gravou dezenas de horas de conversas com Adolf Eichmann, com a expectativa de que elas levariam a um livro que refutaria a história estabelecida do Holocausto. Para o desgosto deles, no entanto, Eichmann passou a fazer declarações antissemitas na fita que indicavam claramente que ele desejou exterminar todos os judeus e que a política nazista tinha sido orientada para a Solução Final. Eichmann colocou uma pedra sobre a negação. Bettina Stangneth forneceu a análise mais detalhada e corretamente contextualizada deste ato revisionista suicida que é está atualmente disponível.

Eichmann declarou na fita 17 que "ainda há um monte de judeus curtindo a vida hoje que deveriam ter sido gaseados" (Stangneth, pág. 265). Mais revelador, na fita 67, quando Eichmann erroneamente pensou que a gravação havia sido concluído, ele afirmou que "se 10,3 milhões desses inimigos tivessem sido mortos, então teríamos cumprido nosso dever" (áudio aqui). Um trecho no início daquela mesma conversa identifica estes 10,3 milhões como provenientes do Relatório Korherr e diz que "[se] tivéssemos matado 10,3 milhões, eu ficaria satisfeito, e diria, bom, nós destruímos o inimigo" (Stangneth, p.304).

Em sua análise da guerra, Eichmann põe a culpa pelo fiasco em Weizmann, a quem ele chama de "Führer" da judiaria (ver pág. 11 da apresentação do julgamento T/1393). Ele afirma que "Como as coisas estão agora, desde que o destino pérfido deixou uma grande parte desses judeus vivos, digo a mim mesmo que isto é um fato consumado. Devo me curvar ao destino e providência" (transcrição do julgamento). Eichmann também discute o uso de exaustor de gases de Warthegau, como pode ser visto na página 14 de suas correções nos manuscritos, T/1432.

É, portanto, de admirar que MGK* e outros "revisionistas" evitem essas fitas e transcrições como uma poraga. A frase "eles são forjados" ou "estamos condenados/ferrados" parece apropriada.

*MGK é a sigla pra Mattogno, Graf e T. Kues, três negacionistas de destaque (nos círculos "revis") atualmente.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/09/eichmann-before-jerusalem-bettina.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Eichmann Before Jerusalem (Bettina Stangneth)
Tradução: Roberto Lucena

Capa do livro
Observação: a quem não leu antes, eis minha crítica (na observação deste post) a essa postura da Hannah Arent, que sempre achei furada, sobre o conceito do que ela definiu como "banalidade do mal", que sempre achei fútil e superficial. Mas não é uma crítica recente que eu faço como podem pensar por conta da data do post de 2013. A quem quiser ler os outros posts que citam a Arendt sigam a tag. Que agora a Bettina Stangneth pôs realmente abaixo a ideia distorcida da Arendt, com base nas impressões dela sobre a aparência do Eichmann num julgamento.

E qual é o problema de se manter esse tipo de opinião confrontando nomes que são literalmente endeusados, idolatrados e citados com base em "carteirada" ("quem é você pra contestar este nome consagrado"): justamente este. As pessoas no Brasil se agarram a um nome (geralmente quando citam estados ditatoriais chamando de totalitarismo, outro conceito problemático) que ouvem falar muito e fazem disso uma procissão sem sequer questionar se a afirmação dela procede ou tem sentido.

Toda vez que eu fazia essa contestação dizendo que é no mínimo fútil alguém traçar um perfil de um sociopata com base na dissimulação (certeira) que ele fez no julgamento pra passar por "pobre homem indefeso". A Arendt caiu literalmente na lábia do Eichmann no julgamento dele em Israel que era na verdade um assassino frio como todo nazista fanático, e dissimulado. Não havia banalidade do mal alguma, apenas dissimulação que ela tolamente (por romantismo e idealização) não soube identificar.

É um perigo fazer um comentário assim pois se entra fatalmente no terreno das diferenças de comportamento entre homens e mulheres, que existem, generalizando, pois nem todo homem e mulher se comportam dentro de um padrão preestabelecido embora haja sim uma certa facilidade do lado masculino em perceber certas dissimulações de homens, por um certo ceticismo com gente dissimulada, justamente por sabermos da natureza comportamental mais agressiva e violenta masculina.

A Arendt produziu uma banalização do nazismo com a ideia distorcida dela. Ainda bem que livros como este da Bettina Stangneth, depois de tanto tempo, põe abaixo essa abobrinha de "banalidade do mal". O Eichmann não era um simples burocrata bucólico, com cara de idiota (bonachão), como a Arendt deduziu erroneamente por se ater apenas à dissimulação e aparência dele, ela foi extremamente superficial e genérica ao produzir esse conceito bem furado. Eichmann era um assassino frio, dissimulado, como todo nazista fanático. Toda a máquina de extermínio nazista tinha essa característica, a maioria não entrava na mesma só por serem burocratas, o envolvimento com a ideologia do partido nazi pesava muito.

O que eu já vi de texto em português (do Brasil) citando esses livros da Hannah Arendt como referência sobre totalitarismo, dá desgosto. A crítica deve ser feita pois não é possível que as pessoas sejam tão óbvias a só usarem certos livros batidos (porque só procuram as traduções em português, nem espanhol verificam já que é um idioma próximo e fácil de ler pra quem fala português) pra entender o nazismo sem nem questionar se o conceito está errado ou não. Eu tenho tanta aversão à coisa (a repetição por comportamento de manada provoca certa irritação), que quando vejo o nome Arendt citado com a tal "banalização do mal" eu já paro de ler.

sábado, 20 de setembro de 2014

Descobrem câmaras de gás no campo de extermínio de Sobibor numa escavação arqueológica

Escavações no local em 2009.
Foto: Yad Vashem
AJN.- "Este descobrimento tem uma grande importância na investigação do Holocausto", disse o Dr. David Silberklang, investigador do Yad Vashem.

Aproximadamente 250.000 judeus foram assassinados nesse lugar, o qual os nazis demoliram e cobriram com árvores para encobrir seus crimes. Também se encontraram bens pessoais das vítimas.

Uma escavação arqueológica na Polônia descobriu a localização das câmaras de gás no campo de extermínio de Sobibor, anunciou hoje o Yad Vashem, segundo o jornal israelense The Jerusalem Post.

Cerca de 250.000 judeus foram assassinados em Sobibor, mas em 14 de outubro de 1943, uns 600 presos se rebelaram e escaparam brevemente. Entre 100 e 120 prisioneiros sobreviveram à revolta e 60 deles à guerra. Depois do levante do campo, os nazis arrasaram a zona e plantaram pinheiros para ocultar seus crimes.

A escavação arqueológica no lugar, que é conduzida por uma equipe internacional de especialistas desde 2007, descobriu milhares de pertences pessoais dos presos, incluindo joias, perfumes, medicamentos e utensílios.

Esta semana foi descoberto um poço que foi utilizado pelos prisioneiros do Campo 1, onde ocorreu a revolta. Esses também continham objetos pessoais que pertenciam a prisioneiros judeus já que os guardas alemães haviam arrojado basura nele quando o lugar estava sendo destruído.

O Dr. David Silberklang, investigador do Instituto Internacional para Investigação do Holocausto, do Yad Vashem, disse: "O descobrimento da localização exata das câmaras de gás no Campo de Sobibor tem uma grande importância para a pesquisa do Holocausto".

Além disso, acrescentou que era importante entender que "não há restos de nenhum judeu que trabalhou na área das câmaras de gás, e portanto, esses resultados são os únicos que restaram dos que foram assassinados".

Fonte: AJN (espanhol)
http://www.prensajudia.com/shop/detallenot.asp?notid=39513
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Escavações revelam câmara de gás em campo de concentração na Polônia (blog A Vida no Front)

Mais detalhes em:
Archaeologists unearth hidden death chambers used to kill a quarter-million Jews at notorious camp (Washington Post, EUA)
Archeological Digs Reveal Sobibór Gas Chambers (Yad Vashem)
Archaeological Excavations at Sobibór Extermination Site


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Besa, o código de honra albanês que salvou centenas de judeus na Segunda Guerra Mundial

Nesses dias nos quais o fanatismo religioso vem demonstrando a miséria a que pode chegar aos que são chamados "animais racionais" - nada muito novo abaixo do sol - , trago-lhes esta história na qual diferenças religiosas ficaram de lado para que vigorassem valores como a honra, a solidariedade, a compaixão - tudo isso é precisamente o Besa. [Besa e shqiptarit nuk shitet pazarit, traduzindo: "a honra de um albanês não pode ser vendida ou comprada num bazar"]

Obs: Besa (Wikipedia, verbete em inglês)

No começo da Segunda Guerra Mundial, a Albânia era uma monarquia dependente econômica e militarmente da Itália. Assim sendo, quando os italianos a ocuparam e o Rei Zog I fugiu - com isso, com todo o ouro que pode roubar - as coisas mudaram. Nesses tempos, o número de judeus na Albânia chegava apenas aos 200... quando terminou a guerra eram mais de 3.000. Os judeus que fugiram dos países ocupados pelos nazis encontraram refúgio na Albânia... um país de maioria muçulmana. Os organismos governamentais proporcionaram documentação falsa às famílias judias que lhes permitiam se misturar ao resto da população e os albaneses proporcionaram casas e seus escassos recursos para acolhê-los.

As coisas se complicaram em 1943 quando foram os nazis os que, a pedido de Mussolini, tomaram a Albânia. Igual ao que fizeram no resto da Europa ocupada, os nazis solicitaram às autoridades locais a lista dos judeus residentes no país... mas obtiveram um não como resposta. Por que um país de maioria muçulmana se arriscou a salvar os judeus ponde em jogo sua própria vida?
Não fizemos nada especial. Isto é Besa - assim respondem os albaneses.
Segundo o professor Saimir Lloja, da Associação de Fraternidade Albano-Israel,
Besa é a regra de ouro, é um código moral, uma norma de conduta social, além de ser parte de uma antiga tradição. [...] Besa se trata, em essência, de não ser indiferentes ante alguém que sofre ou é perseguido. É uma autoexigência moral que é pedida a cada albanês que viva honestamente e que - chegado a estes casos - também se sacrifiquem.
Ali Sheqer Pashkaj, fotografado por Norman Gershman. Seu pai, também chamado Ali,
salvou o jovem judeu Yasha Bayuhovio, com sombreiro mexicano em uma das fotos.
Herman Bernstein, embaixador dos Estados Unidos na Albânia nos anos 30, escreveu:
Não há rastro de nenhum tipo de discriminação contra os judeus na Albânia [...] Albânia passou a ser um lugar raro na Europa hoje em dia, onde não existe o ódio nem os preconceitos religiosos, apesar dos albaneses mesmos serem divididos em três religiões.
Por Javier Sanz em 16 de setembro de 2014

Fonte: Historia de las Historias (site espanhol)
http://historiasdelahistoria.com/2014/09/16/besa-el-codigo-de-honor-albanes-que-salvo-a-cientos-de-judios-en-la-segunda-guerra-mundial
Título original: Besa, el código de honor albanés que salvó a cientos de judíos en la Segunda Guerra Mundial
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Besa: A Code Of Honor (Yad Vashem)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A história dos que não traíram o Brasil. Militares perseguidos pela ditadura revelam violências sofridas após o golpe de 1964

Militares perseguidos pela ditadura revelam violências sofridas após o golpe de 1964

Sete oficiais depuseram à Comissão Nacional da Verdade e à Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul

Os militares perseguidos pela ditadura no Rio Grande do Sul tiveram pela primeira vez a oportunidade de serem ouvidos sobre as graves violações de direitos humanos que sofreram durante a ditadura. Em audiência pública realizada em Porto Alegre, na tarde desta segunda-feira (15/09), sete ex-integrantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, depuseram às Comissões Nacional e Estadual da Verdade.

Rosa Cardoso, membro da CNV e coordenadora do grupo de trabalho "Militares Perseguidos", Paulo Ribeiro da Cunha, professor da Unesp e pesquisador responsável pelo grupo, e Carlos Frederico Guazzelli, presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul, colheram os depoimentos e receberam de todas as vítimas detalhes sobre a perseguição sofrida no regime militar.

Em um dos depoimentos mais emocionados, o capitão do Exército Constantino José Sommer, de 80 anos, relembrou como foram as tentativas frustradas do golpe por parte dos militares em 1954, 1955 e 1961, até conseguirem derrubar o governo legal em 1964. Sommer contou que fazia parte de uma lista de considerados comunistas e inimigos dos golpistas.

Segundo o capitão, os mais visados eram os que estudavam ou liam jornais e fontes de cultura ditas de esquerda. Ainda antes do golpe, Constantino foi chamado diversas vezes pelo Serviço Secreto (S2) para explicar o que sabia sobre Che Guevara. O militar perseguido se manteve sempre em silêncio, o que lhe custou punições como detenção no quartel.

Sommer relatou que ficou preso no quartel de artilharia antiaérea, em Caxias do Sul, por 61 dias, logo após a golpe. Na cela, ele e mais 17 militares que lutaram contra a tomada do poder pelas FFAA sofreram terror psicológico e ameaças de morte. O desespero e a angústia se tornaram presentes na vida de todos, principalmente após o assassinato do Sargento Venaldino Saraiva Peres, ocorrido dentro do quartel. Além de passar dois meses preso, o Capitão ainda teve a sua poupança confiscada e a casa revirada pelos golpistas.

"Após sair da prisão, nos foi recomendado que não podíamos sair de casa, nem entrar nas unidades militares de origem, pois éramos vistos como persona non grata e comunistas perigosos. Diante dessa penúria, sem crédito, sem conta bancária e sem vencimentos, passei a trabalhar num terreno que havia comprado, contíguo à casa da minha sogra, com quem morava com a família. Já tinha nessa altura três filhos e passei a cultivar batata, milho e aipim para o sustento da família", relatou o capitão.

Além de Sommer, também relataram a perseguição sofrida os capitães Wilson da Silva e Almoré Cavalheiro do Exército, o coronel Avelino Iost, da Força Aérea Brasileira, o Sub-oficial da Marinha Avelino Capitani, o major Melquisidec Medeiros, da Aeronáutica, e o filho do coronel Alfredo Daudt da Aeronáutica, Alfredo Daudt Júnior.

Rosa Cardoso fez questão de destacar que os militares foram a categoria, proporcionalmente, mais perseguida pela ditadura. Disse que não se tem números exatos, mas que foram cerca de 7,5 mil, entre Exército, Marinha, Aeronáutica e Brigada Militar.

A coordenadora do grupo de trabalho explicou como serão aproveitados os depoimentos e relatórios entregues pelos militares perseguidos. "Primeiro, eles vão integrar o nosso relatório conclusivo da Comissão Nacional da Verdade, que será apresentado agora em dezembro, à presidenta Dilma Rousseff. E, de outra parte, ficam como um acervo para historiadores e pesquisadores", afirmou.

JUSTIÇA -Todos os fatos pesquisados e investigados ficarão à disposição também da Justiça. "Se eu não acreditasse que todo esse trabalho ajudará de alguma forma na revelação desses crimes e na responsabilização criminal de quem ainda está vivo, eu não teria aceitado o convite do Governador do Rio Grande do Sul para fazer parte da Comissão Estadual da Verdade. Existe sim essa possibilidade", ressaltou Carlos Frederico Guazzelli, presidente da CEV-RS.

O pesquisador Paulo Ribeiro da Cunha disse que os depoimentos dão voz a esse grupo de militares perseguidos, na medida em que eles são veiculados pela imprensa e ficam disponíveis na internet. Disse também que a presença dos oficiais possibilita um canal positivo de diálogo com a sociedade. Cunha explicou que "alguns depoimentos ainda serão objeto de audiências reservadas, porque aqui os depoimentos são limitados pelo tempo, mas é muito bom que eles venham à tona para que eles mostrem seus rostos e a sua história. Essa é uma oportunidade muito positiva, mesmo passados tantos anos", concluiu.

Confira como foi a Audiência pelo link da nossa transmissão online:
https://www.youtube.com/watch?v=7_EZ08vwjdk

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação


Mais informações à imprensa: Fabrício Faria
(61) 3313-7324 O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Acompanhe a CNV nas redes sociais:

www.facebook.com/comissaonacionaldaverdade
www.twitter.com/CNV_Brasil
www.youtube.com/comissaodaverdade

Fonte: site da Comissão Nacional da Verdade (CNV)
http://www.cnv.gov.br/index.php/outros-destaques/540-militares-perseguidos-pela-ditadura-revelam-violencias-sofridas-apos-o-golpe-de-1964
Link2



Comentário: a quem não entender a correlação do assunto do post com o blog, já que faz tempo que foi publicado e o povo (generalizando) tem preguiça de checar as tags (marcadores, História do Brasil), ler o post antigo abaixo que explica isso:
História do Brasil e "revisionismo" (negacionismo) do Holocausto

Considero que o grande combustível pra proliferação de racismo e preconceito no Brasil, além do problema educacional, é sobretudo a ignorância do povo sobre a história do próprio país, onde proliferam mitificações regionais e negacionismos de outro tipo como a tentativa de certa direita no Brasil tentar abrandar a imagem do regime de exceção de 21 anos (1964-1985) e que acaba caindo na boca de imbecis ignóbeis que acham que estão chocando "sendo do contra", quando na verdade chocam pela burrice e moral torta.

Antes que alguém possa perguntar o porquê do acréscimo do título ("A história dos que não traíram o Brasil"), já que o original é mais curto: eu considero todos (tirando os ignorantes que não tinha consciência na época do que faziam) os cabeças dessa ditadura e os que participaram ativamente (civis e militares), um bando de traidores do país da pior espécie, um bando de capachos de outros países, títeres covardes e alpinistas sociais, que deveriam ter vergonha de bradar "orgulho" dessa traição lesa-pátria (rasgaram a constituição e a legalidade no país pra usufruírem do poder com aval dos Estados Unidos) ao invés de ficar posando de raivoso quando vão dar depoimento nessa comissão. Sou contra essa lei de anistia, isso é lei de impunidade, principalmente da mídia e empresas que participaram do regime, deveriam revogá-la e punir principalmente as empresas que foram suporte deste regime.

É importante mostrar a todos, pois este não é um assunto conhecido de todos no país, que a ditadura e os golpistas (traidores) perseguiram milhares de militares com HONRA, patriotas, legalistas, pros golpistas praticarem alpinismo social (algo desprezível) e ser capacho de outras potências, e ainda bradam que são "nacionalistas", não chegam a ser isso, são traidores mesmo e burros, sem consciência de pátria ou não e civismo, "nacionalistas" só se for do tipo de lixo como os nazistas e fascistas foram, que destruíram seus próprios países pra reinarem no poder.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sobre a polarização e radicalização política no Brasil. Adendo do post de "perdas soviéticas na Segunda Guerra"

Isto foi um adendo ao post "Sobre as perdas soviéticas da Segunda Guerra Mundial", em virtude de quem sempre se toca no assunto União Soviética, comunismo, socialismo etc, isto acaba atraindo uma patrulha ideológica de cunho autoritário pra atenuar, relativizar ou fazer panfletagem antiesquerda em torno dessas questões.

Em outros tempos esse tipo de alerta não se faria necessário, mas como os meios de comunicação do Brasil - como a maioria sabe - são controlados por meia dúzia de famílias que controlam quase tudo o que é repassado de informação ao país e com viés político claro e forte, "travestido" de jornalismo e com ataques diários requentando este terrorismo midiático da Guerra Fria ignorando a realidade do mundo atual e da conjuntura externa, além de mais um punhado de sites radicais de direita que não têm o menor constrangimento em distorcer etc, faz-se necessário o alerta.

Não dá mais pra simplesmente fazer de conta que não está havendo nada no país, esta polarização vem em uma crescente, inflamada por publicações como as da Revista Veja, da TV Globo e outros, onde vários desses veículos de mídia serviram à ditadura de 1964-1985 e continuam com a mesma politicagem lacerdista e udenista de décadas atrás. Ou seja, não evoluíram e agem contra o país.

Pra quem não tem familiaridade com os termos "udenismo" e "lacerdismo", são equivalentes, lacerdismo vem de Carlos Larcerda, um antigo político carioca que insuflava discursos golpistas, moralistas "anticorrupção", desprovidos de crítica séria (até porque isto era um instrumento pra atacar rivais, com aval da mídia) para desestabilizar governos democráticos eleitos, principalmente se tinham um viés nacionalista (economicamente falando). No Brasil quem geralmente tem um viés mais nacionalista são os partidos de esquerda, mais precisamente os maiores e mais representativos, os grupos menores continuam sua eterna caricatura na TV não tendo respaldo popular. Por isso acho engraçado quando vem ou vinha integralista criticar o povo por ser de esquerda.

O intento de Lacerda era sempre tornar o Brasil alinhado e títere principalmente dos Estados Unidos, ele atacava à soberania do país e partilhava do pensamento de que o Brasil não deve ser independente ou ter uma política independente e soberana, que eu costumo chamar de vassalagem, que no sentido que eu uso é mais sinônimo de submisso, servo, que tem origem no termo original.

A UDN foi o partido auxiliar do lacerdismo, na verdade partilhavam do mesmo ideário, a UDN usava o mesmo discurso histriônico, golpista, desestabilizador (na guerra fria isso tinha um peso fora do comum), anti-nacionalista e que influenciava uma classe média manobrável, despolitizada, antipatriótica, e por que não? Estúpida. E o fenômeno persiste até hoje em pleno século XXI, sinal de que amplos setores da sociedade brasileira não evoluíram politicamente em nada, continuam escravos de um mundo anacrônico e paranóide, com um sentimento antipatriótico muito forte que usa o "perigo do comunismo" como forma de polarizar o país porque o povo se deixa levar por esse discurso descerebrado. Quem se deixa levar por este tipo de discurso fascistoide e histérico está sim bancando o idiota, ainda mais hoje que muita gente tem informação sobre o que levou o Brasil a viver sob regimes de exceção e da eterna intromissão de outros países na política interna do Brasil, principalmente quando o assunto é energia e recursos naturais e estratégicos do país: petróleo, Petrobras, minérios, usinas hidrelétricas etc.

Curto e grosso: hoje só é ignorante, politicamente, quem quer. Quem lê porcaria ao invés de procurar informação acurada. Não tem desculpa dizer "eu não sei", com o Google à disposição e ferramentas diversas (de qualidade) pra ler.

Eu não conto aqui com apoio de gente de esquerda tampouco de direita, uns se omitem ou se escondem porque acham, estupidamente, que qualquer coisa ligada a Holocausto é "defesa de Israel". No fundo estão seguindo ladainha "revi" (de extrema-direita) mesmo achando que não. De outra parte, tem um pessoal de direita muito chato que toda vez fica misturando conflito no Oriente Médio com Israel com essas questões da segunda guerra etc, isto quando não rola covardia por ter medo de criticar os "revis" abertamente de qualquer vertente política, um medo que não se justifica, trata-se de fobia. Este tipo de "ajuda" (entre aspas, se é que dá pra chamar isso de ajuda, pois a maioria nem se manifesta ou participa discutindo, mas fica lendo o blog), é realmente dispensável.

Como ficou muito extenso o acréscimo, resolvi colocá-lo em um post exclusivo pra não atrapalhar a leitura do post com tradução do texto do Roberto Muehlenkamp no Holocaust Controversies com o link e estimativas do blog esloveno Crappy Town.

Segue abaixo o adendo do dia 11.09.2014 sobre o post: Sobre as perdas soviéticas da Segunda Guerra Mundial.

Aviso: Irei transferir este post para o dia 17.09.2014
______________________________________________

E um acréscimo meu: estou de fato e com vergonha de ter que ponderar e comentar sobre esse clima de polarização/radicalização interna no Brasil (mais uma vez, mas farei sempre que achar necessário), pela quantidade de gente estúpida que aparece escrevendo idiotice (extremismo) na web.

Não se trata de uma pessoa ou duas e sim de dezenas, milhares ou até milhões que comungam disto, algo que inevitavelmente chama atenção. Em posts sobre disputa política a gente perde a conta de quantos manifestam este comportamento. Como o acesso à internet no país aumentou, obviamente que emergiu um lodaçal de ódio e ignorância prepotente com isso e não serei eu a dar jeito, tampouco tolerar, apenas não tenho paciência pra bater boca com gente desse tipo ao contrário de muita gente no país que acha que as pessoas têm que ter paciência pra discutir com gente assim. Ninguém tem que aturar isto. Ponto.

Voltando ao assunto, há um problema de livros panfletários como o "Livro negro do comunismo" que inflam dados e distorcem (bastante cultuado no Brasil e em países onde há uma paranoia com o assunto, fazendo um revival da Guerra Fria), uma vez que é um livro bastante criticado justamente por ser panfletário, mas que obviamente quem se identifica com o radicalismo de direita o tem como "livro de cabeceira", distorcem ainda mais o problema ao invés de esclarecer. Mas pra esse pessoal "vale mais" pregar que aprender ou entender.

Há "livros negros" de todo tipo, ao gosto de cada um, uns bastante criticados, outros menos. No "Livro negro do capitalismo" (existe esse também) há a cifra/estimativa de 100 milhões de mortos também que é a cifra apregoada no livro "rival".

Por que eu ressalto isso? Estou partindo do pressuposto que a maioria que lê este blog ainda não descambou pra algum tipo de sectarismo sem volta, apesar deu mesmo já ter alfinetado partidos de forma sectária (quando a paciência encurta, a gente radicaliza como desabafo porque essa pregação enche o saco). Mas só há espaço pra diálogo com quem não vestiu a roupa do extremismo, se vestiu não vale vir reclamar de extremismo de "revis", até porque não são os únicos grupos radicais problemáticos no Brasil deste tipo. Os "revis" no Brasil surgem de uma cultura radical de direita que é resquício da ditadura militar no Brasil (1964-1985) e mesmo antes dela, não são algo "descolado" da História do país como alguns querem tentar caracterizá-los. O udenismo (que prega discurso moralista, irracional e extremado) sempre teve um relevo cultural no Brasil, mesmo sendo um atraso intelectual e político da pior espécie, e continua vivo até hoje.

Há um radicalismo de direita crescente no Brasil que emburrece o país, corrói a democracia com crendices neuróticas e cria um ambiente de burrice e fanatismo generalizado destruindo gradativamente o próprio espaço da internet, que não havia isto (nesta proporção) até a explosão do Orkut que coincidiu com o aumento de acessos à internet.

Eu estou farto disso e não pegarei leve com quem panfleta ou manifesta esta postura anti-democrática demonizando por se tratar do mesmo problema dos "revis". Não há diferença de revista extremista como a Revista Veja (dando nome aos bois), que fica demonizando grupos de esquerda democráticos com mentiras pra grupos explicitamente fascistas saudando o fascismo e afins.

A raiz do problema é a mesma, uma cria ambiente propício ao outro. Capas como esta (publicação de 2002 com um cão com três cabeças com Marx, Lênin e Trotsky, alusivo ao "perigo do PT" chegar à presidência, o mundo não acabou por isso como "previam") você encontra fácil coisas similares em blogs neonazis e fascistas. A única diferença é que os fáscios "revis" em geral são antissemitas, e a Veja fica "apenas" no discurso anti-esquerda que é partilhado também por "revis".

Já bani jornais daqui por este radicalismo, por publicação de imundícies (cortei todos os posts e substitui por originais de outros países), o texto aberrante foi descrito neste texto, e sempre tem espaço pra mais um ser banido. Este tipo de publicação não faz falta alguma.

Por sinal, o texto citado acima (sobre aquele caso da Mayara Petruso e preconceito regional) até merecia um post só pra mostrar o discurso imbecil publicado no jornal citado no link. A autora do texto se diz "neta de nordestinos", como se isto desse aval (autoridade) a alguém a escrever besteira de forma "isenta" sobre o assunto. E não disse o estado de origem dos avós. Guerra regional? Só se for a que certa elite de alguns estados do país tentam incitar, e depois quando o tempo fecha ficam posando de "vítimas" por frouxidão (provocam e não aguentam o tranco).

Em resumo: não sou tolerante com intolerantes. Não faz falta alguma textos sobre nazismo e segunda guerra que saem em publicações no Brasil, a maioria deles saem publicados antes fora do país em espanhol, inglês, francês e até português (em jornais portugueses), com muita coisa melhor. Graças a internet ninguém hoje no Brasil precisa se restringir a ler a mídia decadente do país (com raras exceções).

Requentam, de forma irresponsável e inconsequente, o discurso paranoide da guerra fria contra a esquerda, demonizando grupos democratas etc, achando que há controle sobre isso e não há. Foi isso que levou o crescimento de grupos de extrema-direita na Europa.

A coisa é tão bizarra que nem nos EUA, que foi o país principal que trombou de frente com a União Soviética na Guerra Fria, esse tipo de publicação ou propaganda faz mais "sucesso" hoje. O Tea Party nos EUA, que algo próximo da postura desses grupos radicais tupiniquins, é visto como aberração naquele país por gente normal. Mas ainda acho o "Tea Party" do Brasil chega a ser pior. Pode ser por uma questão idiomática porque a ofensa em português sempre irrita mais que aquela escrita em outro idioma.

É este cenário que abre espaço pra proliferação de grupos radicais de vários tipos que depois a mesma população, que faz vista grossa ao problema e até vai "na onda" estimulando, se pergunta como esses "fenômenos" surgem e fica atordoada por não conseguir mais falar de política sem ser atacada. É o famoso "o mal que você propagou se voltará contra si".


As coisas são interligadas, não existe o extremismo sujinho e o limpinho, todos são problemáticos. Alguns estão em alta e outros não. Grupos ultraliberais no Brasil incitam este tipo de ranço antidemocrático e anti-esquerda na internet, com teorias da conspiração e paranoia, que é aproveitado por outros grupos de extrema-direita não-liberais. Há bastante tempo. O tubo de ensaio disto foi o Orkut, mas hoje a coisa é difusa.

Este assunto da direita norte-americana será abordado aqui, mostrarei as divisões da direita dos EUA e como estão interligadas, principalmente com os ditos "libertários" que é uma facção exótica nos EUA e radical (extremada). Muita gente acha que a direita dos EUA não é antissemita ou algo parecido, mas há uma vertente bastante racista e antissemita por lá que não está tão à margem assim de partidos daquele país.

Essa visão do problema nos EUA só se torna confusa no Brasil e em outros países por conta da aliança política, econômica e militar entre os Estados Unidos e Israel, que se se levar em conta o que essa outra direita radical de lá prega, é uma aliança que não faz sentido algum.

Qual a razão do comentário extenso? o post é sobre perdas soviéticas. Já vi gente reclamar porque estão "falando bem" da União Soviética, como se retratar fatos que ocorreram fosse falar bem de algo. Foi sobre isto que comentei acima: fanatismo e cegueira. O povo se tornou fanático e perdeu a vergonha de sê-lo e acha que todo mundo tem que aturar esta postura cretina. É esta a razão deste comentário.

Há grupos no Brasil (no Orkut aparecia de rodo) que ficam pregando isso como se fossem "tábua de salvação" política, aqui mesmo já fui atacado verbalmente por um que se dizia "liberal-conservador" seguidor de "filósofos" que, ao invés de discutir o assunto do post, começou a fazer pregação bitolada como se fosse pastor de Igreja e a gente o público a ser "catequizado", e obviamente acabou tomando toco pra parar de babaquice.

Se dão fermento pra esse tipo de coisa crescer, depois não vale o povo chiar reclamando da ascensão disto.

domingo, 14 de setembro de 2014

As divisões da Direita Norte-americana: Direita Anticomunista, Racista, Cristã e Neoconservadora

Ao contrário do que a mídia eletrônica e formal no Brasil dissemina sobre o assunto, ou mesmo o que não comenta, até porque não tem interesse em esclarecer nada historicamente ao povo e a maioria só panfleta, distorce e não informa, segue abaixo as divisões da Direita norte-americana pra ficar como registro já que, se aqui ainda não aparece muita gente que alega ter este perfil político torrando a paciência, no Orkut e no Facebook isso abundava, e são pessoas que torram a paciência de um (bem mais que um "revi").

O problema é que virou febre na internet certos sites extremistas e grupos exóticos como alguns que havia no Orkut devotados a um astrólogo que se dizia "filósofo". Fenômeno não costumeiramente citado na grande mídia (apesar da mesma atualmente adotar este tom) para não ser rotulada de tresloucada, isto criou uma cultura de ódio e intolerância na web que não havia antes do Orkut (quando este tipo de problema começou a se disseminar pra valer) e que já contagia as ruas.

É preciso ter uma ideia clara e precisa sobre definições e conceitos sobre estas divisões históricas pra não ficar girando em círculos em embromação de gente radical que, ou só quer demonizar grupos políticos legítimos, ou fazer pregação idiota sem base política e histórica alguma.

Um exemplo? Leiam novamente esta discussão que começou sobre um assunto e acabou em pregação política de "catequese". O que é uma bobagem sem tamanho, não tem gente aqui pra ser "catequizada".

Como é possível discutir a sério com gente assim? Xingar todo mundo sabe, eu poderia ter xingado e começado a ironizar os comentários pra pessoa perder a calma e escrever mais bobagem, mas não o fiz pra ver até onde a pessoa iria "pregando". Mas não é o tipo de discussão que interesse ou preste pois este pessoal costuma negar que fascistas, por exemplo, sejam de extrema-direita.

Parte da ideologia nazista foi calcada não só em antissemitismo como em cima do ódio antiesquerda ou como muitos chamam, anticomunismo, que pode adquirir qualquer interpretação dependendo do radicalismo de cada pessoa ou mesmo informação. Uma pessoa pode ser de direita, Churchill era e nem por isso fazia esse tipo de pregação estúpida, isto não implica que compartilhe deste tipo de obsessão, intolerância e demonização rasteira que só tem espaço em países onde há um problema sério de leitura, educação e tolerância.

Recentemente apareceu um romeno radicado no Brasil escrevendo um monte de cretinice antissemita com este tipo de perfil político. Esse tipo de extremismo que não é caracterizado abertamente como fascismo, costuma ser a porta de entrada pro mesmo.

Como disse aqui ("Tão liberal e tão amigo de Salazar. O lado obscuro e "oculto" da relação entre Fascismo e Liberalismo"), este é só um post de uma série pra mostrar as ligações nazistas e fascistas da direita política antiga com o darwinismo social e liberalismo radical que produziram o nazifascismo. Haverão outros posts como estes:
O racismo de Murray Rothbard: Hutus e Tutsis
Richard Widmann, Harry Elmer Barnes e a Operação Barbarossa

Os liberais (Democratas) não foram citados neste post pois na divisão política dos EUA costumam ser retratados como "esquerda" embora não sejam vistos como esquerda na Europa, América Latina (Brasil) e muitas partes do mundo. A diferença entre Democratas e Republicanos nos EUA não é tão grande assim ao contrário do que muita gente prega.

A matriz ideológica central do nazismo era o darwinismo social e racismo exacerbado, herança do liberalismo clássico inglês e dos EUA, informações que grupos de Direita geralmente costumam omitir e negar (quando não desconhecem). O liberalismo radical quase sempre desemboca em regimes autoritários ou crises sociais sérias, causadas pelo caos econômico que produz empobrecendo Estados, aumentando desigualdades sociais e concentrando riquezas, vide a atual crise nos EUA e Europa onde vários grupos de extrema-direita têm ascendido politicamente como "resposta" a isto (resposta que todo mundo sabe aonde vai dar), principalmente na Europa onde existe um resíduo forte da direita de cariz fascista.

Trecho do livro "Unraveling the Right. The New Conservatism in American Thought and Politics", editado por Amy E. Ansell, minha tradução:

O que é certo sobre a Direita? (What Is Right About the Right?), pág. 18
"Esta conceituação da Direita pressupõe uma série de crenças que se estendem ao longo de muitas continuidades e, portanto, desafia o conceito de que existe um "extremista" 'ou "radical" de Direita que está fora e à parte do mainstream do sistema político. Racismo, sexismo , homofobia e antissemitismo - junto com outras formas de ideologia supremacista - não são de domínio exclusivo de grupos de ódio militantes organizados, mas também são encontrados na cultura do mainstream e da política. O autoritarismo pode assumir uma forma individualizada, tal como um linchamento da Ku-Klux-Klan ou violência contra gays, como pode aparecer em um ambiente institucional, como na passagem de leis draconianas de drogas ou de legislação anti-imigração (promovida em meados dos anos 1990 tanto por políticos Republicanos e Democratas).

Em todos esses exemplos, os temas do preconceito, supremacia e etnocentrismo também estão presentes. Temas adicionais que emergem de um estudo da Direita política dos EUA incluem o nativismo, crenças religiosas ortodoxas (principalmente cristãs), hierarquia de dominação masculina das estruturas das famílias, pelos homens da família, apoio ao capitalismo desregulamentado de livre-mercado, individualismo inflexível e crenças em mitos de subversão conspiratórios e bodes expiatórios.

A diversidade dentro da Direita pode ser confusa, e há ainda uma batida recorrente das muitas "melodias" da Direita - o problema da igualdade. Sara Diamond propôs uma definição enganosamente simples mas abrangente da Direita política: "Ser de extrema-direita significa apoiar o Estado em sua capacidade de impor a ordem e se opor ao Estado como distribuidor da riqueza e poder para a maioria e mais igualdade na sociedade."

Usando esta definição e visão da Direita em termos de sua mobilização social e política sobre certos temas centrais, Diamond em "Roads to Domination" (Estradas para a dominação) dividiu a direita norte-americana entre a Segunda Guerra e o fim da Guerra Fria em quatro movimentos principais: a Direita anticomunista, a Direita racista, a Direita Cristã e os neoconservadores. Cada um desses setores tiveram adeptos que variavam do moderado ao militante, desenvolvendo várias metodologias de estratégia e táticas, destacando diferentes temas em uma matriz infinita de combinações individualizadas. E que certas visões de movimento político e social de uma extrema-direita particular serviram como indutor do funcionamento legitimado do Estado que dependiam de suas principais demandas.

Como Diamond e outros documentaram, há uma dinâmica relação entre os vários setores da Direita. O ativista de Direita coloca o conservadorismo acima da militância e da ideologia, simultaneamente pressionando os liberais a migrar pro centro e recuar. Um ativista vigoroso da Direita abre oportunidades de recrutamento para a extrema-direita. Ao mesmo tempo, os excessos dramáticos da extrema-direita fornecem um abrigo para vitórias ideológicas da luta do ativista e conservador de Direita e os faz parecer mais razoáveis.

Diamond apontou que os distintos setores da Direita são às vezes apoiadores do sistema e às vezes oposição ao sistema. Eles formam alianças mutáveis ​​com base em objetivos comuns, que variam com o tempo e o objetivo/tema, "Este é um conceito muito útil uma vez que os mesmos tipos de grupos paramilitares de extrema-direita ajudaram agências governamentais a espionar dissidentes dos direitos civis e antiguerra nos anos 1960, também estavam ocupados formando milícias antigoverno armadas e explodindo prédios federais na década de 1990.

É errôneo concluir que porque há temas frequentemente partilhados na Direita, que todos os grupos de direita atuam juntos. Por exemplo, o grupo conservador Heritage Foundation é um crítico de longa data da rede de extrema-direita LaRouche, enquanto alguns conservadores tradicionais são ofendidos pelas mudanças radicais propostas pelos ativistas mais reacionárias e ultraconservadores da Nova Direita. As opiniões da extrema-direita, tanto as do ativista radical como as do conservador de direita podem giras sobre a covardia e fraqueza ou sobre os agentes ativos da conspiração global para escravizar patriotas norte-americanos brancos.

Grupos de extrema-direita como a rede LaRouche, o Liberty Lobby, e o movimento de Identidade Cristã (Christian Identity) tentam se juntar aos ativistas mais moderados de Direita e coligações conservadoras, mas a culpa em torno da associação é antiética e imprecisa, apesar de sua popularidade como um fundo de arrecadação de recursos via mala direta por grupos de vigilância de liberais. Não é preciso presumir que nem todos os conservadores estão numa ladeira escorregadia em direção ao reacionarismo, ou que todos os reacionários estão inevitavelmente ligados a uma corrente em direção ao fascismo. As migrações ocorrem, mas elas ocorrem em ambas direções, assim como nos grupos de esquerda."

Tradução: Roberto Lucena
Observação: o livro da capa (o primeiro) se chama White Protestant Nation (The Rise of the American Conservative Movement), de Allan J. Lichtman. Seguem as resenhas:
1. White Protestant Nation (The Rise of the American Conservative Movement) - Grove Atlantic
2. "White Protestant Nation," by Allan J. Lichtman - Chicago Tribune
3. New Book by Historian Allan Lichtman Explores Roots of Conservative Movement - SPLC
4. 2008 Nonfiction Finalist White Protestant Nation, by Allan J. Lichtman - Critical Mass

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...