sexta-feira, 17 de julho de 2009

Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 3

Parte 2: Para entender: Ciência vs. Pseudociências

3. O mercado do paranormal: oferta e procura

Comentávamos ao final do tópico anterior a existência de interesses econômicos e de poder, algo que caracteriza toda a atividade humana, mais especialmente as pseudociências. Parece que nós humanos temos necessidade de conhecer o que nos depara o futuro, aliviar nossas penas e angústias, tentar melhorar... da maneira que seja. As pseudociências normalmente proporcionam este tipo de alívio, análise ou solução de maneira simples e a troco de um simples “donativo” econômico. Esta procura é que permite a aparição do mercado do paranormal, que move cifras dificilmente calculáveis, mas sempre astronômicas. Fala-se que somente o assunto da futurologia supõe uma cifra superior aos 40 bilhões de pesetas anuais (470 milhões de reais) em nosso país. Os medicamentos homeopáticos começam a envolver cerca de um terço do volume de negócios das empresas farmacêuticas européias...

Quando se debatem assuntos pseudocientíficos às vezes se tende a recorrer à refutação das hipóteses, ou à exigência de provas suficientemente sólidas que lhes sirvam de suporte. Mas devemos reconhecer que, em muitos casos, as pessoas comuns não apelam a estes poderosos métodos de crítica. Damos mais peso à autoritas: quem faz a afirmação, quem a relata. Isto nos remete ao papel dos meios de comunicação, que “supomos” ter credibilidade, e nos quais às vezes aparece este tipo de afirmações extraordinárias.

Comentava o professor emérito de jornalismo norte-americano Curtis MacDougall [6] que levando em conta que grande parte do povo “conhece o que lê nos jornais” (por extensão nos meios de comunicação audiovisual), estes têm um papel fundamental na propagação e instalação das superstições modernas: “O que é que uma pessoa saberia se durante o último quarto de século se baseasse somente nos jornais norte-americanos para obter informação sobre percepção extra-sensorial, astrologia, predições do fim do mundo, espiritismo, fantasmas, poltergeists, exorcismos, o homem das neves, serpentes marinhas, cura psíquica, clarividência, ovnis e fenômenos similares? Teria essa pessoa os fatos?”. A resposta é negativa na opinião de MacDougall: estes temas se apresentam no geral (numa avassaladora maioria dos casos) de maneira acrítica e torcida a favor do sobrenatural.

Mas conviria examinar em detalhe: um recente acompanhamento realizado a quatro dos principais jornais de nosso país pelo jornalista Oscar Menéndez [7] durante o mês de outubro de 1998, mostra que as notícias com forma pseudocientífica aparecem normalmente em seções não relacionadas com a ciência e sim com meios de comunicação (televisão), recolhendo o aparecido em programas televisivos. Em geral o tratamento dado pelas seções de ciência (ciência, sociedade, ou futuro) era bastante sóbrio. Faz falta um estudo mais completo sobre este tema, que – em minha opinião – encontraria certas lacunas dentro das próprias seções de ciência, especialmente relacionadas com pseudociências no mundo da saúde.

É certo que a imprensa escrita é bastante sóbria na acolhida destas temáticas, que aparecem normalmente em amplos artigos de suplementos específicos ou de fins de semana, normalmente, mais do que como notícias “propagandísticas”. No entanto, a situação muda se consideramos globalmente os meios de comunicação.

Por um lado temos um setor de publicações especificamente dedicadas à promoção das pseudociências: como Más Allá, Enigmas, Año Cero, Karma 7... Nelas, os critérios de veracidade e verificação mínimos do trabalho jornalístico são esquecidos: a única coisa que vale é o espetacular, os mistérios, um conglomerado de filosofias Nova Era e expedientes X que têm em qualquer caso um importante público em nosso país. Têm uma tiragem menor que as revistas de divulgação científica (como Muy Interesante ou Quo), mas ao dedicar-se de maneira monotemática a estes assuntos quase chegam a exclusivizá-los. Por fim, as revistas de divulgação se dedicam principalmente à ciência e normalmente não dedicam demasiado espaço aos temas paranormais.

A imprensa periódica de modo geral, como dizíamos, apenas trata esses temas. Certamente, aparecem de vez em quando afirmações do paranormal sem suficiente conteúdo crítico; certamente, também, não é nas seções onde a notícia científica tem cabimento nesta mídia. A pergunta que podemos fazer é por que os critérios básicos da atividade jornalística de comprovação da notícia soem ser suspensos ao tratar desses temas. Quando se trabalha corretamente, o certo é que a maravilha pseudocientífica cai por seu próprio peso, e fica na anedota.

O problema mais premente está na mídia audiovisual, na rádio e televisão. A própria dinâmica dos mesmos permite mais facilmente apresentar o lado humano da pseudociência (os videntes, os contatados...) mais nada. Mais todavia quando o que se busca é o espetáculo, como sucede no que se sói catalogar como televisão lixo. É difícil pensar que estes pseudodebates ou programas de testemunhas podem fazer outra coisa que não seja apoiar esses mistérios aparentes. Em contrário, a presença da divulgação científica nesta mídia é realmente escassa... Comentava a esse respeito Miguel Ángel Almodovar [8] que estes programas se mantêm pelos mesmos critérios que regem o resto da mixórdia: o índice de audiência, o que significa benefícios através da publicidade. Mas que, como já aconteceu na França, ao investigar sobre o tipo de público destes programas, sobre as preferências de compra deste público, as próprias agências de publicidade acabam deixando de apoiá-los, porquanto não lhes interessa esse perfil para suas promoções. Um fenômeno que está chegando já ao nosso país: este ano os “teledebates” que fizeram sucesso nas temporadas passadas foram desaparecendo, dando lugar à formula dos ordinary-people-shows, que poderia no futuro seguir igual caminho. Em qualquer circunstância, fica claro que numa fórmula competitiva em termos de público e publicidade, os programas de divulgação científica, ou aqueles nos quais se exponha um debate sério, com argumentos, estão completamente “fora de moda”.

Porque, no fundo, a permanência e transmissão das pseudociências através dos meios de comunicação pertence ao mesmo tipo de fenômeno que enfrenta a própria comunicação social da ciência. Um tema sobre o qual não podemos nos estender neste artigo, mas sobre o qual paira a própria agonia e renascimento do jornalismo científico. Possivelmente, também, no caso das falsas ciências, vive-se uma situação todavia mais exagerada, quando no mesmo lado da classe científica (a pesquisa), estes temas são considerados de escasso interesse, ou inclusive diretamente perniciosos. Isto é, se costumamos comentar que um dos principais problemas que têm a comunicação social das ciências e o jornalismo científico é o escasso interesse por parte dos próprios cientistas (obviamente estamos generalizando) pelo tema, no caso das pseudociências temos dose dupla: estes temas são mal vistos.

Autor: Javier Armentia
Fonte: Paranormal e Pseudociência em exame
Original: Euskonews & Media #30
Fonte: ateus.net

Javier Armentia, Diretor do Planetário de Pamplona(Espanha) e
membro da ARP-Sociedad para el Avance del Pensamiento Crítico

Próximo>> Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 4

8 comentários:

Diogo disse...

... grande parte do povo “conhece o que lê nos jornais”

Exactamente! E quando os jornais são propriedade de um grupo...

Roberto disse...

Depois, se eu tiver "saco"(paciência), vou fazer um recorte dos principais jornais daí(dos donos) só pra ver o quanto de "fundamento" tem essa tua afirmação.

Mas pra quem só lê seletivamente o texto passou batido isso:

"Comentava o professor emérito de jornalismo norte-americano Curtis MacDougall [6] que levando em conta que grande parte do povo “conhece o que lê nos jornais” (por extensão nos meios de comunicação audiovisual), estes têm um papel fundamental na propagação e instalação das superstições modernas: “O que é que uma pessoa saberia se durante o último quarto de século se baseasse somente nos jornais norte-americanos para obter informação sobre percepção extra-sensorial, astrologia, predições do fim do mundo, espiritismo, fantasmas, poltergeists, exorcismos, o homem das neves, serpentes marinhas, cura psíquica, clarividência, ovnis e fenômenos similares? Teria essa pessoa os fatos?”. A resposta é negativa na opinião de MacDougall: estes temas se apresentam no geral (numa avassaladora maioria dos casos) de maneira acrítica e torcida a favor do sobrenatural."


Aqui se fala de coisas "sobrenaturais"(superstições, crendices), o "revisionismo" poderia se enquadrar nisso perfeitamente tal grau de credulidade que uma pessoa precisa ter pra levar a sério algo sem fundamento como objeto de fé, em todo caso, os IHR da vida(Institutos que difundem o "revisionismo") tem origem nos EUA, ou seja, enquadra-se perfeitamente nesse mercado do "sobrenatural" e surreal, tal qual os David Icke da vida(o dos "reptlianos") e toda essa baboseira pseudocientífica.

Graças a falta de precisão nas matérias, os jornais é que dão espaços as falácias de vocês quando não comentam que o número de seis milhões é relativo a uma estimativa e não a um número exato e coisas do gênero. Estamos diante de mais uma nova falácia "revi":

"E quando os jornais são propriedade de um grupo..."


Que deixa evidente que o objeto de obsessão dos "revis" é de fato com um "determinado grupo" e não propriamente a análise da História.

Roberto disse...

Pegando os cinco jornais de maior circulação de Portugal, pra vermos a "propriedade de um grupo":

Correio da Manhã, fundadores, Vítor Direito e Agostinho de Azevedo, ambos portugueses, um dos dois já falecido:
Matéria de um jornalista angolano
Correio da Manhã, Vítor Direito

Jornal de Notícias, proprietários portugueses:
"Grupo Controlinveste Media, e tem como diretor José Leite Pereira"

Controlinveste Media:

"A Controlinveste tem a sua origem na Olivedesportos, empresa fundada em 1984 por Joaquim Oliveira, ainda hoje um dos mais importantes activos do grupo, que tem participação activa na área dos direitos de transmissão televisiva das principais competições do futebol profissional em Portugal"

Roberto disse...

Jornal "Público", Portugal:

"O Público é um jornal diário português fundado em 1990. José Manuel Fernandes ocupa actualmente o cargo de director."

"A Público, Comunicação Social S. A. que publica o jornal Público pertence ao grupo empresarial português Sonae e foi fundado em 1989. O seu primeiro director foi Vicente Jorge Silva."

"A Sonae (Sociedade Nacional de Estratificados) foi criada em 1959 por Afonso Pinto Magalhães, sendo hoje em dia um dos mais importantes grupos económicos portugueses. Pinto Magalhães, também fundador do Banco Pinto Magalhães, colocou Fábio Lemos no controlo da Sonae nos turbulentos anos após a Revolução de 1974. Em 1982, Pinto Magalhães oferece 16% da Sonae a Belmiro de Azevedo e, depois da sua morte, Belmiro atinge a maioria do capital após uma longa batalha judicial com a família do antigo presidente. A família Pinto Magalhães desistiu do processo, dando assim o controlo da Sonae a Belmiro de Azevedo."


Bem portugueses os jornais, não? rs

Roberto disse...

O Diário de Notícias, por vezes abreviado por DN (sigla oficial), é um jornal português.

"É um dos jornais matutinos e de referência em Portugal. Tem uma tiragem média de 62 mil exemplares, o que o coloca em 4.º lugar entre os jornais diários generalistas (Fonte: APCT Jan/Out 2008). Tem a sua sede na Avenida da Liberdade, em Lisboa e é propriedade da Global Notícias, uma empresa do Grupo Controlinveste Media."

Controlinveste, ver notícia acima:
"A Controlinveste tem a sua origem na Olivedesportos, empresa fundada em 1984 por Joaquim Oliveira.

Roberto disse...

Jornal 24horas:

"O 24horas é um jornal diário generalista português e publicado em Portugal, na Suíça e nas comunidades portuguesas dos estados Americanos da Nova Jérsia, Nova Iorque e Connecticut. A versão americana tem edição própria e é dirigida por Victor M. Alves."

"Fundado em 5 de Maio de 1998 por José Rocha Vieira - fundador, também, do semanário Tal & Qual -, tem como director, desde 10 de Fevereiro de 2003, Pedro Tadeu. Ricardo Martins Pereira é o Director-Adjunto.

O jornal já foi também dirigido por Jorge Morais, João Ferreira e Alexandre Pais".

Roberto disse...

Texto com base nesse artigo sobre os cinco principais jornais portugueses(em tiragem), sobre a queda nas vendas desse tipo de jornal(impresso):

1a- Memória Virtual
2a- Última Hora, Público(Portugal)

"com base em artigo do Público - “Cinco jornais diários mais lidos perdem 321 mil exemplares em 2007″ - cujo título se encontra, aliás, incorrecto, uma vez que 321 mil é o total da circulação diária destes títulos, sendo a perda líquida face a 2006 de cerca de 9 mil exemplares"

Roberto disse...

Sobre o segundo que consta ter estado no World Media Network, com um jornal alemão e o outro espanhol, só pra ficar no El País(Espanha):

"O Grupo PRISA (Promotora de Informaciones, Sociedad Anónima), é um grupo empresarial espanhol de comunicação, educação, cultura e entretenimento. É dirigida por Juan Luis Cebrián e está presente em 22 países da Europa e da América. Em Portugal detém o grupo Media Capital."

"El País é um jornal espanhol fundado em 4 de maio de 1976 (no período posterior à morte de Francisco Franco e inicial da abertura política), totalmente escrito em castelhano, propriedade do Grupo PRISA [1]. Com uma média de 457.675 exemplares diários, é o jornal não-desportivo de maior tiragem da Espanha. Sua sede fica em Madrid, e conta com escritórios nas principais cidades espanholas (Barcelona, Sevilha, Valência, Bilbau, entre outras) e tem diferentes edições para cada região do país (a mais recente a ser criada foi a da Galiza).

Se caracteriza por ser um jornal de tendência europeísta e social-democrata, e pelo grande destaque a informações de âmbito internacional, de cultura e de economia, e sobre a Espanha."
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Só postei isso pra mostrar que se você de fato tivesse interesse em procurar algo, pesquisaria por conta própria e não sairia apontando o dedo em tom acusatório como costumam fazer os "revis", uma simples busca lhe esclarecia as coisas(e isso que procurei acima foi relativamente rápido, como eu disse, se "houvesse paciência" pra procurar pois acho inoportuno ficar procurando coisas banais que qualquer pessoa, se quiser, acha, pra mostrar a cada baboseira que vocês postam), pelo menos em Portugal a situação é essa, a não ser que você acredite em ETs, Mula sem cabeça, Boitatá, gnomos.

Mas como é preciso "crer" que "algo oculto" domina tudo, uma "força mágica", aí fica difícil de haver uma discussão em bases racionais, pois é impossível discutir crenças dessa forma, se eu não creio e não há evidência pra crer, pra que discussão sobre o nada ou algo fruto de crenças pessoais(medos, fobias)?

Há ainda outra coisa que não se comentou que é a crença de que todo mundo é estúpido a ponto de não ter senso crítico algum e que os "revis" se portam como "iluminados" portadores de uma "verdade a ser revelada"(desde a década de 50 na ativa e nunca conseguiram "refutar" o Holocausto, haja fé), mais 'religioso' que isso só o dobro disso.

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