segunda-feira, 30 de março de 2009

Um estojo para explosivos

A história de um violinista judeu de 12 anos que na Segunda Guerra Mundial ajudou com seu instrumento a luta contra os nazis.

(Foto)Membros da Resistência nos bosques de Polônia.

Muitos relatos estranhos têm sua origem na Segunda Guerra Mundial. Mas o fabricante judeu de violinos Ammon Weinstein esbarrou com uma das mais singulares do gênero pouco antes de dar em junho de 1999 uma conferência na cidade de Dresden na Associação Alemã de Fabricantes de Violinos. Intitulada de "O violino: uma evidência muda", a conferência de Weinstein se centrou no violino no Holocausto. No curso da investigação realizada para preparar sua exposição, Weinstein descobriu a existência de um instrumento secretamente guardado como tesouro pela família de Sefi Hanejbi, que na atualidade vive em Israel.

Contudo não se trata de um Stradivarius, Guarnieri ou Amati perdido por um longo tempo, nem de um instrumento tocado por algum gênio anônimo cujo talento permaneceu desconhecido no caos da guerra. Antes disso, o relato se direciona até a existência, vivida no fio da navalha, de partisans russos e judeus que lutavam contra um inimigo comum e como a música ajudava fugazmente a saldar velhas contas.

Durante a guerra, o avô de Hanejbi – Diada (tio) Misha – renomado partisan, topou com uma criança que dormia debaixo das árvores com um violino a seu lado. Quando se verificou que o garoto era judeu, os partisans o adotaram e tramaram um ardil perigoso. Planejaram atuar como um conjunto de músicos ambulantes numa aldeia próxima na qual havia uma cantina frequentada por soldados alemães. Ao ouvir o grupo, um oficial da Gestapo local advertiu o talento do jovem e o convidou a tocar para eles na cantina.

Conhecido com o nome de Motele, o garoto – de doze anos – começou uma série de audições ante os oficiais. Em cada ocasião, com grande risco para ele mesmo e seus companheiros de grupo, Motele utilizou o estojo de seu violino e qualquer outro objeto que engenhosamente permitisse esconder explosivos para introduzi-los de modo sub-reptício na cantina ou em qualquer outro lugar de onde se pudesse ocultar. Os explosivos foram colocados estrategicamente no edifício, cuja disposição foi muito rapidamente conhecida pelos partisans. Em um predeterminado intervalo da execução, Motele acendeu o pavio e desapareceu no bosque para observar a destruição da cantina. Apesar desta fuga milagrosa, que lhe permitiu contar o sucedido, foi morto um ano depois em um incidente desvinculado da explosão da cantina.

Como o violino foi preservado – um instrumento alemão o qual é desconhecida a origem e que, numa etiqueta fechada em 1891, indicava uma reparação realizada por J. Altrichter de Frankfurt am Oder – continua sendo um mistério. Basta dizer que em agosto de 1999, Hanejbi apareceu com ele no Kibutz Eilon porque nesse kibutz se realizavam a cabo cursos de verão de violino que ele mesmo, Wainstein, ajudou a criar há dez anos. Hanejbi considerou que era o momento adequado para doá-lo ao Yad Vashem, Museu do Holocausto em Jerusalém. O Presidente do Museu Avner Shalev, apresentou-se ao recebê-lo: "Ao resguardar o violino" seguiu-se a reflexão de Hanejbi ao entregar o instrumento, "também resguardamos a alma do garoto".

Em 3 de agosto se realizou uma cerimônia especial de grande teor simbólico em memória de Motele e dos partisans.

Como um apelo à juventude, o violinista britânico Charlie Siem, de 12 anos, tocou o tema do filme "A lista de Schindler". Na continuação, o violinista israelita Matun Gavol, de 16 anos, executou com o violino de Motele – "um instrumento com natural calidez", conforme a opinião de Weinstein – o comovente 'Nigún de Baal Shem', de Bloch. A interpretação foi apreciada num silêncio mais profundo que o habitual na sala de Keshet Elion pelo patrocinador do curso magistral, Schlomo Mintz, na presença de Gilad Shevi, Itzjak Rashkovsky e Ida Haendel, diretor executivo de Keshet Elión, diretor musical e artista convidada, respectivamente.

Ao limpar o violino de Motele, Weinstein comprovou que se tratava de um bom instrumento alemão, similar aos que as famílias pobres judias compravam antes da guerra para seus filhos. "Na realidade", disse, "os tocadores de instrumentos de corda judeus, poloneses e russos, usavam quase que exclusivamente instrumentos alemães". De modo que talvez não resulte numa desagradável ironia que este violino tenha vindo à tona na cidade de Dresden."

The Strad, dezembro de 1999, vol. 110 n°1316
Orpheus Publications Ltd., 7 St. John’s Road
Harrow, Middlesex, HA1 2 EE, UK

Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
http://www.fmh.org.ar/revista/17/unestu.htm (Link2)
Texto de: Keneth Ash
Tradução(pro espanhol): Clara Guinsburg
Tradução: Roberto Lucena

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