terça-feira, 27 de maio de 2008

Holocausto na Letônia - Rumbula (30 de Novembro de 1941)




Esta tradução se refere ao Capítulo 8 do livro The Holocaust in Latvia, 1941-1944: The Missing Center do Historiador letão Andrew Ezergailis.

Traduzido por Leo Gott à partir do link:

http://www.rumbula.org/remembering_rumbula.shtml

30 de Novembro de 1941 (Segunda Parte)

Nesse momento as vítimas foram retomadas por uma equipe de homens formando uma gauntlet, como um funil alimentando as covas. De acordo com Péteris Stankéviçs, sua coluna de judeus foi conduzida ao longo do prado, onde ficaram esperando sua vez. Os tiros nas covas eram audíveis e o despimento dos judeus era visível. Os alemães permitiam a Stankéviçs que ele olhasse as covas, mas ele espiava através dos arbustos. A partir do local de espera, de acordo com a Stankéviçs, os judeus eram soltos e enviados para o gauntlet em grupos de cinqüenta pessoas.


Costumava-se pensar que os homens destacados para o afunilamento os judeus para o gauntlet eram homens do SD. Pelo menos no primeiro dia da operação, era um grupo misto que incluía uma companhia da Rîga Ordnungspolizei. Mais longe do gauntlet assumiu o SD, e existem todas as razões para pensar que os homens de Aråjs trabalharam bem na formação de filas[colunas]. As atribuições para o exterior era para oberservar as fugas. Várias metralhadoras foram colocadas na periferia, prontas para parar qualquer fuga em massa.
No primeiro dia a 3a Ordnungspolizei tinha colocado muito perto das valas. Jeckeln mandou Degenhart reposicioná-las para obter uma melhor visibilidade para tiro a distância, afim de conter um motim. A aproximação das valas do gauntlet tornaram-se mais exigentes e mais restritas, a cerca de cinquenta metros da cova, os homens se situaram a cerca de seis a oito metros umas das outras e o funil tinha diminuído de quatro a cinco metros de largura. A horripilante marcha para Rumbula terminou em um inferno de horror. Assim que os judeus entraram no gauntlet, eles foram apressados juntos com gritos e agressões físicas. Antes da floresta tinha um pequeno pasto, e no ponto em que as pastagens terminavam o SD letão SD coletava as bagagens que os judeus tinham trazido ao longo do gueto. Em ambos os lados da trilha haviam caixas de madeira para receber os bens que os judeus ainda não tinha jogado fora, em valas e underbrush. Progredindo ainda mais no gauntlet, eles foram forçados a retirar os seus casacos e, em seguida, a despir-se completamente. Algumas testemunhas disseram que os judeus eram obrigados a despir-se até a pele, outros dizem que até à roupa de baixo. Com a progressão do dia, as pilhas de roupas cresceram imensamente. Uma equipe de Aråjs de motoristas e mecânicos carregaram a roupa em seus caminhões e levaram-nas para a cidade. Os alemães ficaram especialmente nervosos no ponto de despir, porque o fluxo era interrompido por ali. Eles estavam receosos porque um motim poderia acontecer. Sapatos iam para outra pilha. Os judeus entraram nas covas por uma rampa de terra, alguns rezando, alguns recitando a Torah, outros choramingando, gemendo e chorando. Entes queridos abraçados em conjunto, as mães agarradas a seus filhos. Neste momento a vontade de resistir haviam deixado os judeus. As vítimas eram colocadas com a face virada para baixo por cima daqueles que já tinham sido baleados e ainda se controcendo e forçando, sangue escorrendo, cérebros e excrementos apodrecendo.
Com suas armas automáticas russas em disparos conjuntos e únicos, os atiradores matou os judeus a partir de uma distância de cerca de dois metros com um tiro na parte de trás de suas cabeças. Uma bala por pessoa foi destinado pelo sistema de Jeckeln.


Jeckeln se situava no topo do aterro com muitos outros graduados SS, SD, e autoridades policiais. O chefe letão do Annas Iela, Osis, esteve lá por uma boa parte do tempo. Aråjs, fortemente embriagado, teve um papel mais ativo, trabalhando mais perto das valas, supervisionando seus homens. Jeckeln convidou convidados de todos os níveis na hierarquia alemã: o Reichskomissar de Ostland, Lohse, esteve lá por um tempo, talvez esteve o Gebietskomissar da Letônia, Drechsler. Jeckeln ordenou o seu próprio pessoal para estar no tiroteio, e testemunhar, bem como dividir parte do crime. Ele também chamou os comandantes de polícia de Pskov e outras cidades da região a fim de testemunhar o assassinato. Stahlecker foi chamado do front de Leningrado para estar presente, talvez uma referência ao trabalho que ele não tinha terminado e mostrar a forma como ele deveria ser feito.

Do ponto de vista dos homens fazendo o assassinato no fundo das valas, Jeckeln e seus visitantes e olhavam aturdidos e perplexos. Embora os oficiais da polícia tenham vindo de distância longa, Jeckeln não convidou ninguém da Wehrmacht.

Os atiradores trabalhavam com 50 balas (número de munições em pentes russos) turno. Quando um pente ficava vazio, o atirador retirava e recarregava. Três covas operaram simultaneamente. De acordo com os depoimentos as três valas variavam de tamanho. De qualquer forma os assassinatos foram realizados por 12 homens. Schnnaps estavam disponíveis, também para os visitantes, mas os assassinos, nas valas, tinham pouco tempo para isto. Como é de conhecimento os 12 homens não tinham reservas para aliviá-los. Zingler tinha bebido antes do trabalho e um pouco mais depois, mas não bebeu nada durante o dia. Uma vez que as valas eram em forma de uma pirâmide invertida, já que os cadáveres haviam preenchido as valas com as vítimas, os assassinos tinham que subir sobre os mortos e também sobre os que estavam morrendo. Depois do por-do-sol os tiros passaram a ficar menos precisos. No crepúsculo o Schutzpolizei Heise foi atingido no olho por uma bala que ricocheteou. Tinham várias evidências quando o tiroteio parou.
É difícil imaginar que eles poderiam ter continuado na escuridão total, muito além 5:00 horas, ou até uma hora e vinte minutos além do por-do-sol. Muitas testemunhas alemãs disseram que eles foram até escurecer. Stankéviçs testemunhou que foi para casa às 20:00hs, mas ele foi por uma rua da circunscrição, talvez parando para consumir e compartihar schnnaps com seus colegas policiais. O gerente da estação de Rumbula, que ouviu à partir de sua casa, testemunhou que o tiroteio parou somente às 19:45hs.


A última coluna de judeus saiu do gueto às 12:00hs. Outra procura foi feita ao longo de todo os apartamentos vazios para ver se algum judeu tinham iludido a evacuação. Às 13:00hs Heise estava de volta ao gueto, quando Hesfer informou-lhe que cerca de vinte judeus ficaram doentes e acamados e não poderiam ser transportados para Rumbula, em vez seriam levados para o hospital do gueto. Na parte da tarde, após a última coluna ter deixado o gueto, Heise reuniu os membros da Schutzpolizei, Hesfer, Tuchel, Neumann e outros, alguns dos que tiveram de regressar dos assassinatos em Rumbula por vários motivos, e ordenou que os doentes deveriam ser retirados do hospital, colocados em colchões de palha ao longo do lado da rua, e lhes dessem um tiro na cabeça. A limpeza dos cadáveres nas ruas do gueto começou às 14:00hs. Os judeus que trabalhavam no gueto pegaram e carregaram os corpos para o antigo cemitério judaico. Alguns judeus que estavam nas ruas fingiam que não respiravam, e de acordo com o depoimento de Robert Levi, homendo Kommando Aråjs mataram eles.
Na parte da tarde, quando a calma regressou ao grande gueto, Aron Prell à partir do pequeno gueto correu para sua casa na Rua Maskavas número 67. Sua família já não estava lá. O apartamento foi demolido, o mobiliário e os bens estavam por todas as partes do piso. Ele viu corpos nos pátios da Rua Ludzas. Ele procurou os corpos de sua família e não os encontrou. A cerca de quarenta metros de distância, ele viu Tuchel matar seu conhecido Kugel, que tal como ele tinha vindo procurar por seus parentes. Escondendo de Tuchel, na Rua Ludzas Prell correu de Hesfer, Neuman, Cukurs e Burtnieks. Cukurs sacou sua pistola. Hesfer ordenou que Prell transportasse os corpos para o cemitério. Trenós, carrinhos de mão e carroças foram utilizados no transporte. Os alemães dinamitaram uma cratera a noroeste do muro do cemitério, onde eles jogavam os mortos. Em uma rua perto do cemitério Prell localizou sua mãe, e levou seu corpo para a cratera. O corpo foi jogado na vala comum, sem ritos ou orações. Não era permitido aos judeus do gueto visitar o cemitério. Apesar de pegarem os corpos rapidamente, no gueto manteve-se uma confusão, e para os dias seguintes ele suportaram a prova de um pogrom.
Malas quebradas, móveis, brinquedos, carrinhos de bebês estavam ao longo das ruas e pátios.

As casas estavam desoladas, havia sangue respingado pelos muros e escadarias. Dias depois da ação, havia sangue congelado sobre as calçadas e sarjetas. Mesmo dois meses mais tarde, com a chegada dos judeus alemães, cadáveres foram encontrados em porões e sótãos.

Após o assassinato dos doentes em frente ao hospital, Tuchel foi para Rumbula e olhou o local dos assassinatos, embora ele não tinha qualquer função lá. Ele passou cerca de dez minutos, caminhou até o lixo de schnapps, pegou duas garrafas, e retornou para Rîga. Na parte da tarde Paul Botor voltava do campo de Rumbula em seu caminhão e na estrada viu um SS alemão sem cinto e de boné caminhar no sentido a Rîga. Ele parou afim de lhe levantar, mas o homem disse a ele que um graduado comandante de polícia das SS tinha lhe ordenado a caminhar de volta para Rîga.


Alemães e letões parece que consumiram todo o que foi atribuído de schnapps e muito mais. Os participantes da polícias de Rîga receberam metade de uma garrafa de álcool, oficiais receberam um litro. Então com doze anos de idade Juris Legzdiñß entrou na 11 ª Circunscrição em Pårdaugava na parte da tarde. Ele encontrou as instalações em desordem, uma grande tristeza se abateu sobre ele. Os homens caminhavam em estado de embriaguez. Mais tarde Juris soube através de sua mãe, uma escriturária da circunscrição, o que tinha acontecido.

O escritório de Jahnke funcionava como um centro comunicações ao longo do dia, recebendo mensagens de seus homens no gueto e em Rumbula. O Tenente-Coronel Osis pediu a Jahnke para salvar uma enfermeira letã tinha sido levada para as valas à partir do hospital judeu. O ferimento no olho de Heise havia causado um alvoroço. O Coronel Rehberg, da Gerdarmerie, foi apontado para substituir Heise. Flick and Jahnke vivitaram Heise no hospital. À noite, Jahnke recebeu uma mensagem que era necessário guardas adicionais em Rumbula. Ele enviou uma unidade letã para lá.

A ação ao redor das valas e nas vizinhanças não pararam com o tiroteio. As valas pareciam ter vidas: hemorragias e corpos se contorcendo em dor tentando readquirir consciência. A pontaria, no melhor dos casos, não poderia ter sido perfeita, com a chegada da escuridão, ela piorou. Gemidos e choros foram ouvidos durante a noite. Havia pessoas que tinham sido apenas ligeiramente feridas, ou ainda que não atingidas completamente, pois eles rastrearam para fora das valas. Centenas devem ter-se sufocado com o peso das carnes humanas. Sentries [sentinelas] foram destacadas para as valas, e uma unidade da Latvian Schutzmannschaften foi enviada para a guarda da área. As ordens eram para liquidar todos os sobreviventes no local. Mas tarde, às 11:00hs do dia seguinte, dois homens sangrando e uma mulher nua apareceram no estaleiro da estação ferroviária de Rumbula. Uma bala tinha trespassado pescoço de um, e o outro foi ferido na bochecha, sua língua estava rasgada. Mesmo antes que pudesse dizer uma palavra, os guardas letões os pegaram para poder matá-los direito, se a mulher era uma trabalhadora da ferrovia poderia ter suplicado a eles porque as suas crianças estavam em casa. Os guardas lançara a meio-morta mulher em um trenó e voltaram para as valas.

Em 1º de dezembro os homens que trabalhavam no gueto começaram a deixar seus postos de trabalho. A metade oriental do gueto estava em estado de choque, ninguém se atrevia a sair de casa. Em 3 de dezembro a vida começou a voltar ao normal. Foi anunciado que precisariam de mais costureiras na cidade. Frîda Michelsons foi para o lugar indicado e se inscreveu. Entre 3 e 4 centenas de mulheres já estavam lá. Elas foram orientadas a obter alimentos suficientes para dois dias e, depois, voltar às 16:00hs. Quando as mulheres retornaram com as parcelas de alimentação, os policiais dispuseram-nas em cinco colunas e marcharam para fora do gueto. Elas atravessaram a cidade para a Term Prison; (também conhecida como .i.Rîga Erzatzgefängnis) e ficaram mantidas lá por 2 dias sem alguma explicação. Frida Michelson escreveu:

“Eu notei um comportamento incomum ao passar pelas calçadas. Alguns seguiram nossa coluna com os olhos cheios de tristeza, alguns limpando seus olhos, alguuns atravessados a si mesmos, eles sabiam mais do que isso…”
As mulheres judias do grupo de Frîda na Term Prison foram selecionadas em 29 de novembro. Por volta do dia 5 de dezembro as mulheres foram selecionados por um oficial alemão, alguns tiveram de ir para a direita, outras para a esquerda. Os certificados de especialização de Frida Michelson de nada serviram; para ela ou para o seu grupo, elas voltaram para o gueto. Elas iriam fazer parte da ação do dia 8 de Dezembro.


Não é certo que o segundo dia de assassinatos foi originalmente previsto. E é possível que Jeckeln considerou a continuação no dia dia seguinte, 1º de Dezembro. Mas as dificuldades dos processos e, talvez, a tensão sobre os homens, foram suficientes para adiar a ação. O adiamento acabou por ser de 8 dias.

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